sábado, 30 de maio de 2009

Trainspotting: uma imagem-crítica à vida frívola da contemporaneidade



Trainspotting é um filme sobre jovens e drogas que foge do clichê: vício/recuperação. O filme de Danny Boyle também tem outras coisas interessantes, sua montagem é alucinante, não-linear e suas cenas surreais são inesquecíveis.


O que dizer da cena de Renton mergulhando no vaso sanitário em busca de seu supositório de ópio ou de quando o próprio, após uma overdose, cai em uma “cova”, uma espécie de estágio entre a vida e a morte, e começa a ver as coisas e as pessoas ao seu redor através de um enquadramento bizarro.


É também uma crítica à vida vazia e consumista dos anos 80/90, o uso das drogas, nesse sentido, é uma opção, uma linha de fuga que recusa a vida frívola e medíocre. Porém, as personagens não são submetidas ou subjugadas pelo uso das drogas, os sujeitos não são levados a elas por influência negativa ou por forças externas (marginalidade, pobreza, etc), pelo contrário, o uso das drogas é uma escolha entre outras, é um consumo entre tantos outros supérfluos na sociedade, em vez de comprar uma máquina de lavar, um micro system ou uma televisão, as personagens preferem comprar um “pico” e fugir, por alguns momentos, da realidade sufocante que os cerca. No filme, as personagens tentam outras saídas, neste ponto, a droga é apenas outro cenário/personagem, como o é o futebol, o passeio no campo, o vídeo pornográfico furtado do amigo, a boate, as brigas no pub, etc.


As drogas também fazem parte da sociedade de consumo e não funcionará por muito tempo como linha de fuga. Por outro lado, a droga aparentemente cultuada no início do filme é também dissecada e questionada enquanto conduta de vida assumida pelas pessoas que a consomem, como as amizades provocadas e condicionadas pelo uso das drogas são rejeitadas e descartadas (exceto a de Spud, talvez por pena) pela personagem principal de Renton.


No fundo, o filme é uma crítica ao consumismo de nossos tempos; no final, até as drogas tornam-se supérfluas, assim como, as sociabilidades e as amizades que elas criam.

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