terça-feira, 22 de setembro de 2009

Não há limites para essa quadrilha!




"O embuste dos kits
21/09/2009 12:25:19
Leandro Fortes




Na manhã de 16 de junho, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM, e o secretário de Saúde Distrital, Augusto Carvalho, do PPS, se encontraram no Almoxarifado Central da Secretaria para participar de um lance de marketing: a entrega de 30 kits de equipamentos, no valor de 3 milhões de reais, para desafogar a precária rede de unidades de terapia intensiva (UTIs) do sistema de saúde local. O evento, como logo em seguida iria demonstrar o Ministério Público, era um embuste. A compra não só era falsa como a transação escondia parte de um esquema voltado para a privatização da saúde no DF.


Dois dias depois, ao mesmo Almoxarifado se dirigiu um grupo liderado pelo promotor Jairo Bisol, do Ministério Público do Distrito Federal, titular da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus). Acompanhado de um perito e dois analistas, todos médicos, Bisol descobriu que os equipamentos eram, além de usados, tecnologicamente obsoletos. Além disso, a maioria não tinha nota fiscal nem qualquer documento a lhe atestar a origem. O destinatário da mercadoria não era o secretário Augusto Carvalho, mas duas pessoas estranhas ao serviço público: Gustavo Teixeira de Aquino e Marisete Anes de Carvalho.


No endereço indicado nas caixas, um escritório no Setor Sudoeste de Brasília, o Ministério Público localizou a empresária Marisete Carvalho, dona de uma pequena empresa de reformas de condomínios e de comércio de equipamentos hospitalares. Marisete é um dos elos a unir os negócios da saúde no Distrito Federal a um esquema de contratos irregulares descoberto pelo MP do DF, com potencial de se transformar numa ação de improbidade administrativa contra diversas autoridades brasilienses".


(...)


domingo, 13 de setembro de 2009

Um bom recomeço




Rosane Pavam
11/09/2009 14:13:35


Uma novidade corre solta no cinema americano. Ela está contida em Che 2, que estreia na sexta 18, e em Che, a primeira parte da obra, exibida no Brasil em março. Ambos os filmes de Steven Soderbergh, produzidos e protagonizados por um corajoso e dedicado Benicio del Toro, buscam o cinema que se fazia antes e se orgulham dele, enquanto o atualizam.


Os dois filmes fogem dos efeitos computadorizados, das granulações, da fotografia amarelada e do balouçar da câmera-bebê, itens marcantes dos filmes de arte destes tempos, na verdade subdramas da televisão, sem seu ocasional humor. Filmes como esses dois, sobre a trajetória do revolucionário cubano Che Guevara, arquirrival nas terras norte-americanas, não transformam a precariedade em um padrão a ser subliminarmente seguido pela indústria cinematográfica. O diretor sabe o que quer dizer e diz. (...)


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Relato do Minicurso sobre anarquismo:


“Não se deixar representar... viver a autonomia: ação direta e violência revolucionária no pensamento anarquista” [1]

Adonile Guimarães & Thiago Lemos

Apresentamos esse minicurso porque compreendemos que é importante trazer para o debate político atual a possibilidade de novas estratégias de luta e resistência e, ao mesmo tempo, provocar um debate acerca da violência revolucionária e as suas diversas formas de manifestação contra os outros tipos de violência considerados legítimos: repressão policial, opressão estatal, exclusão social. Ancoramos essa discussão no conceito político de ação direta, dando ênfase nos movimentos anarquistas e sindicalistas revolucionários, manifestações importantes tanto em nível nacional quanto internacional.

Primeiramente, abordamos o processo de emergência e consolidação do anarquismo, enquanto um movimento revolucionário, que toma a sua forma histórica na ação e propaganda de Mikhail Bakunin e seus seguidores na Primeira Internacional em 1869. Nesse sentido, argumentamos que a ação econômica defendida pelos bakuninistas serviu para demarcar a especificidade assumida pela estratégia revolucionária anarquista, que surgiu em oposição à estratégia revolucionária marxista, identificada, ao menos naquele contexto, com a ação política. A despeito da terminologia evocada, acreditamos que a ação econômica reivindicada pelos anarquistas naquele contexto foi o primeiro móvel de expressão da ação direta, que, diferentemente da ação política defendida por Marx, pregava a atuação revolucionária dos trabalhadores fora dos quadros partidários.

Para o reforço de tal tese, passamos em revista, ainda que de forma sucinta, alguns tópicos concernentes ao debate travado entre Marx e Bakunin no seio da Primeira Internacional.

Num segundo momento, focalizamos o anarquismo terrorista. Explanamos que no período que sucedeu a destruição da Comuna de Paris em 1871, os anarquistas principiaram uma série de ações que objetivavam chamar a atenção do povo para a causa revolucionária. Essa propaganda levada a cabo pela ação incluía desde a explosão de prédios públicos até o roubo aos mais abastados, passando pelo assassínio de autoridades políticas. Mais uma vez, apesar da evocação terminológica, defendemos que a propaganda pela ação foi uma forma a partir da qual os anarquistas entenderam a ação direta.

A esse respeito pretendemos expor e comentar a recepção que a “propaganda pela ação” recebeu nos meios anarquistas. A repercussão negativa que esta modalidade da ação direta alcançou, principalmente na imprensa burguesa da época, levou os libertários a colocar em questão a (in) pertinência da utilização de métodos violentos no processo revolucionário. É possível alcançar a sociedade anárquica por meio da violência? Se sim, em quais condições ela poderia ser usada? Há a possibilidade de usar a violência, sem descambar para o terror? Dito de outra forma, é exeqüível fazer um uso ético da violência em nome dos preceitos ácratas? Tais questões que perseguiram, durante muito tempo, os anarquistas foram, ainda que minimamente, retomadas e discutidas no decorrer do minicurso.

Posteriormente, o eixo de nossa análise se deslocou em direção ao contexto histórico em que se deu, em virtude da entrada dos anarquistas no sindicato, o surgimento do sindicalismo revolucionário na França entre o fim do século XIX e o início do século XX. Examinamos a Federação das Bolsas de Trabalho e a Confederação Geral do Trabalho, intencionando verificar o envolvimento dos anarquistas nestas duas instituições, e, a partir daí, perceber as mudanças sofridas pela ação direta enquanto uma estratégia anarquista que passou a ser vinculada, quase que exclusivamente, ao mundo do trabalho, se manifestando através das práticas de boicote, sabotagem e greve.

No entanto, mostramos que o ingresso dos anarquistas nos sindicatos trouxe muito mais problemas do que soluções. As discussões, acontecidas em uma escala de alcance internacional, atestaram o fato de que anarquistas sindicalistas e anarco-comunistas não se encontravam totalmente de acordo com as prédicas do sindicalismo (doravante chamado) revolucionário. Os anarquistas, uma vez ingressos no sindicato, deveriam permanecer eternamente nele? Eles poderiam apenas fazer propaganda ou ocupar funções diretivas? O sindicato era um meio ou um fim na consecução dos objetivos libertários? Estas são algumas, dentre várias, questões colocadas pelos anarquistas em relação ao sindicalismo que investigamos em nosso minicurso.

Para tanto, discutimos a posição assumida por dois grandes anarquistas: Errico Malatesta e Pierre Monatte, que, cada um ao seu modo, formularam e conceberam diferentes concepções do que deveria ser a tarefa dos sindicatos. Discutimos ainda uma terceira posição: Neno Vasco que, em nossa avaliação, ocupa uma posição intermediária entre aquela assumida por Malatesta e Monatte.

E por fim, averiguamos a atualidade da ação direta. Trabalhamos com a certeza de que a experiência libertária não é coisa do passado, mas toma parte importante nas lutas cotidianas dos oprimidos contra os diversos regimes de poder a que estamos hoje submetidos.

Portanto, trabalhamos com os temas do anarquismo não apenas para informar e ensinar o que foi as diferentes facetas do anarquismo como movimento social revolucionário, mas, diferentemente, para despertar a discussão e o debate a temas que ainda hoje nos afetam como o assujeitamento passível a burocracias e hierarquias cada vez mais insidiosas e desprovidas de sentido e a desilusão intensa com os políticos, nossos ditos representantes que se tornaram uma casta que nos envergonha, causa descrença, mas é incapaz de nos incitar a revolta, pelo menos numa escala mais ampla e conseqüente.

[1] O minicurso foi apresentado na Semana de História/X Encontro Regional de Professores de História do Triângulo Mineiro, na Universidade Federal de Uberlândia/ Campus Santa Mônica, nos dias 22, 23 e 24 de junho.