segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Absurdo é Viver



Estava eu perambulando pela livraria (este hábito faz parte de um dos meus vícios saudáveis) quando me deparei com "O Mito de Sísifo" de Camus. Conhecia o autor, já havia lido o "Estrangeiro" e parte do "Homem Revoltado", mas não conhecia tal livro. Como adoro o mito de Sísifo, uma metáfora perfeita de nosso mundo do trabalho, resolvi dar uma folheada. E qual não foi o meu espanto quando li na primeira linha do primeiro capítulo: "Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio".

Não resisti e comprei-o.

Camus disserta sobre o absurdo que é a vida e como o homem absurdo se comporta perante ela. O suicídio que aparentemente seria uma decisão absurda, na verdade, não é. Para ser absurdo, explica o filósofo argelino, é preciso ser consciente da gratuidade da vida, do vazio, da falta de sentido; dessa forma, viver é que é um absurdo. Dar termo a própria vida, ao contrário, é ser Deus (um sentido extra-humano para dar sentido ao absurdo humano), é, enfim, dar um sentido à vida, ou melhor, realizar sua única determinação, sua verdade: a morte.

Em outras palavras, cometer suicídio é realizar seu destino, apressando-o. O homem absurdo, para Camus, se caracteriza por ser livre, apaixonado e revoltado, sem esquecer que tanto a liberdade, a paixão, quanto a revolta são atos inúteis, a diferença é que o homem que vive seu absurdo tem consciência disso e joga o jogo. Ele é livre sem buscar fundamento para sua liberdade e nem meta para realizá-la, é apaixonado sem querer explicar sua paixão e é revoltado por ser isto, a sua realização mais fundamental.