domingo, 13 de junho de 2010

Tempo... vivido, percebido, construído



O que compreendemos quando nos referimos ao tempo? O que é isso a que chamamos tempo? O tempo é uma sequência de acontecimentos, de fatos? Quem cria e quebra a sequência? Os fatos e acontecimentos novos? Quem define o novo? Quem o faz? Quem o percebe? O tempo invariavelmente está ligado ao espaço ou não? O tempo é, sobretudo, duração? A nossa percepção sobre o tempo está ligada intrinsecamente a finitude humana?

A noção moderna ocidental de tempo tem haver com o evolucionismo, com as noções um tanto que complicadas de cultura e civilização, que de alguma forma serviram de base de estudo para os europeus fundarem as ciências modernas ocidentais, insisto em usar ocidental porque desconheço quase que completamente os conhecimentos orientais, tanto os legítimos quanto aqueles que foram ocidentalmente denominados de orientalismos que, como se sabe, fazia parte mais do imaginário europeu, ou seja, a interpretação européia do oriente do que do oriente propriamente dito, Marco Pólo foi talvez um dos grandes responsáveis pelos orientalismos, mas por isso mesmo, por não conhecer o acúmulo de conhecimentos próprios do oriente pelo menos antes das grandes trocas comerciais e culturais que os ocidentalizou tanto quanto nós americanos (nascido ou que vive no continente de mesmo nome), é que não posso achar que a ciência, ou um tipo de conhecimento lógico e comprobatório tenha sido uma criação única e específica do Ocidente, embora, Weber e seguidores apontem para isso.

O tempo, então, compreendido pelos europeus estava vinculado a uma relação de dependência com as concepções e descobertas das ciências naturais. A ciência natural européia é, como se sabe, tributária dos contatos ou choques com o “Novo Mundo”, pelos menos na parte relacionada com a disciplina de História, que desde Heródoto quando o incivilizado eram os Persas, a partir da chegada dos Europeus na América, para estes passam ser os habitantes exóticos do “Novo Mundo”. A partir daí, cria-se uma série de regras e discursos que vai dispor e classificar o tempo universal, uma espiral em evolução que começa com invenção da escrita a partir de culturas rudimentares até as civilizações mais prodigiosas. É óbvio, que esta concepção de tempo linear e evolutivo é responsável por uma grande gama de preconceitos e foi um dos legados mais perniciosos do colonialismo e suas correspondentes visões etnocêntricas.

É tão somente com os antropólogos do século XX que essa situação vai começar a mudar. A partir de abordagens mais relativas, menos economicistas e desenvolvimentistas que a noção de tempo vai se ampliar, ou melhor, vão se multiplicar as noções de temporalidade. Quando nos restringimos ao campo da história, os Annales são os responsáveis pela grande difusão das novas concepções de tempo. As várias culturas começaram a ser estudadas por si mesmas e não por padrões e paradigmas estranhos aos seus. A visão do outro pelo outro, a partir do outro, a alteridade, melhor dizendo, com todas as suas limitações ou estratégias (pois a alteridade pode ser um etnocentrismo disfarçado) e por muitas vezes o foi.

Hoje em dia é indispensável, principalmente para os historiadores, o desvelo com as diversas temporalidades, pois é o homem, a mulher em sociedade e suas ações, contra-ações, embates, decisões, escolhas que se determinam e são determinadas e condicionadas pelo mundo e as coisas que criam o tempo, as temporalidades e as diversas noções sobre o tempo.