quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Versos sentimentais de épocas imemoriais


Ao Abrigo das Estrelas

Há muito tempo eu quis
há tempo eu sonhava
relembrar e ouvi o que diz
completar o que faltava

queria paralisar o tempo
em que estava dentro de ti
congelar aquele momento
para que não tivesse fim

aquele beijo, tantos beijos
momentos que desperdiçamos
impedindo que nosso desejo
resultasse do que amamos

do nosso amor, nossa alegria
que extraviou na diferença
do que queria, que eu não queria
para você na minha ausência

fugi de você, mas não consegui
tentei te evitar e até te esquecer
mas todas às vezes que te vi
o coração me fez tremer

talvez não há como voltar,
talvez, mas eu insisto e sinto
até minto para te encontrar
nem que seja breve e finito

a eternidade longe de ti
não vale um só instante com você
porque você longe de mim,
é como eternamente te perder!

que frágeis versos não encontre em vão
correspondência em seu pensamento
pois como é morada em meu coração
quero que eternize aquele momento

não que nosso amor
em palavras apenas fique
mas que elas preserve nosso calor
até o dia em que num só lugar habite

para a noite ser nossa companheira
e não um mero esconderijo
mas traga, ao invés, um céu de estrelas,
e não sombras de qualquer abrigo.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Artigo Carta Capital

Revisitando o poder da mídia
Venicio de Lima


28 de dezembro de 2010 às 10:17h

Os resultados da pesquisa CNI/Ibope divulgados no dia 16 de dezembro confirmam uma clara tendência dos últimos anos e, ao mesmo tempo, recolocam uma importante questão sobre o poder da grande mídia tradicional. De fato, a aprovação pessoal e a confiança no presidente Lula atingiram novos recordes, 87% e 81%, respectivamente; e a avaliação positiva do governo subiu para 80%, outro recorde [íntegra da pesquisadisponível aqui].

A confirmação dessa tendência ocorre apesar da grande mídia e sua cobertura política do presidente e de seu governo ter sido, ao longo dos dois mandatos, claramente hostil ou, como disse a presidente da ANJ, desempenhando o papel de oposição partidária.

Isso significa que a grande mídia perdeu o seu poder?


Monopólio da informação política

Parece não haver dúvida de que a mídia tradicional não tem mais hoje o poder de “formação de opinião” que teve no passado em relação à imensa maioria da população brasileira. E por que não?

Um texto clássico dos estudos da comunicação, escrito por dois fundadores deste campo, ainda na metade do século passado, afirmava que para os meios de comunicação exercerem influência efetiva sobre os seus públicos é necessário que se cumpram pelo menos uma das seguintes três condições, válidas até hoje: monopolização; canalização ao invés de mudança de valores básicos, e contato pessoal suplementar. Com relação à monopolização afirmam:

“Esta situação se concretiza quando não se manifesta qualquer oposição crítica na esfera dos meios de comunicação no que concerne à difusão de valores, políticas ou imagens públicas. Vale dizer que a monopolização desses meios ocorre na falta de uma contrapropaganda. Neste sentido restrito, essa monopolização pode ser encontrada em diversas circunstâncias. É claro, trata-se de uma característica da estrutura política de uma sociedade autoritária, onde o acesso a esses meios encontra-se totalmente bloqueado aos que se opõem à ideologia oficial” [cf. Paul Lazarsfeld e Robert K. Merton, "Comunicação de massa, gosto popular e ação social organizada" in G. Cohn, org. Comunicação e Indústria Cultural; CEN; 1ª. ed., 1971; pp. 230-253].

Aparentemente, a monopolização do discurso político “mediado” pela grande mídia – em regimes não-autoritários – foi quebrada pelo enorme aumento das fontes de informação, sobretudo com a incrível disseminação e capilaridade social da internet.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, quando de sua rápida visita ao Brasil, em abril passado, o fundador do diário espanhol El País, Juan Luis Cebrian, afirmava:

“…a internet é um fenômeno de desintermediação. E que futuro aguarda os meios de comunicação, assim como os partidos políticos e os sindicatos, num mundo desintermediado? Do início ao fim da última campanha presidencial americana, circularam pela web algo como 180 milhões de vídeos sobre os candidatos Obama e McCain, mas apenas 20 milhões haviam saído dos partidos Democrata e Republicano. As próprias organizações políticas foram ultrapassadas pela movimentação dos cidadãos. Como ordenar tudo isso? Não sei. (…) …hoje existem 2 bilhões de internautas no mundo, ou seja, um terço da população planetária já tem acesso à rede. Há 200 milhões de páginas web à escolha do navegante. Na rede, você diz o que quer, quando quiser e a quem ouvir, portanto, o acesso à informação aumentou de forma espetacular. Isso é fato [íntegra disponível aqui].

A disseminação da internet – ou seja, a quebra do monopólio informativo da grande mídia – aliada a mudanças importantes em relação à escolaridade e à redistribuição de renda que atingem boa parte da população brasileira, certamente ajudam a compreender os incríveis índices de aprovação de Lula e de seu governo, mesmo enfrentando a “oposição” da grande mídia.


Resta muito poder

Isso não significa, todavia, que a grande mídia tenha perdido todo o seu poder. Ao contrário, ela continua poderosa, por exemplo, na construção da agenda pública e na temerosa substituição de várias funções tradicionais dos partidos políticos, vale dizer, do enfraquecimento deles.

A grande mídia, em particular a mídia impressa (jornais e revistas), ainda continua poderosa como ator político em relação à reduzida parcela da população que se situa na ponta da pirâmide social e exerce influência significativa nas esferas do poder responsáveis pela formulação das políticas públicas, inclusive no setor das comunicações.

O fenômeno Lula, que deixa o poder, como observou um analista, “amado pelo povo e detestado pela mídia”, deve servir, não só para uma reavaliação do papel da mídia de massa tradicional, mas também como horizonte para aqueles que trabalham pela universalização da liberdade de expressão e pela efetivação do direito à comunicação.


Venício A. de Lima
é professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Resposta ao Tempo





Resposta ao Tempo



Nana Caymmi


Composição: Aldir Blanc/Cristovão Bastos



Batidas na porta da frente

É o tempo

Eu bebo um pouquinho

Prá ter argumento

Mas fico sem jeito

Calado, ele ri

Ele zomba

Do quanto eu chorei

Porque sabe passar

E eu não sei

Num dia azul de verão

Sinto o vento

Há fôlhas no meu coração

É o tempo

Recordo um amor que perdi

Ele ri

Diz que somos iguais

Se eu notei

Pois não sabe ficar

E eu também não sei

E gira em volta de mim

Sussurra que apaga os caminhos

Que amores terminam no escuro

Sozinhos

Respondo que ele aprisiona

Eu liberto

Que ele adormece as paixões

Eu desperto

E o tempo se rói

Com inveja de mim

Me vigia querendo aprender

Como eu morro de amor

Prá tentar reviver

No fundo é uma eterna criança

Que não soube amadurecer

Eu posso, ele não vai poder

Me esquecer

Respondo que ele aprisiona

Eu liberto

Que ele adormece as paixões

Eu desperto

E o tempo se rói

Com inveja de mim

Me vigia querendo aprender

Como eu morro de amor

Prá tentar reviver

No fundo é uma eterna criança

Que não soube amadurecer

Eu posso, e ele não vai poder

Me esquecer

No fundo é uma eterna criança

Que não soube amadurecer

Eu posso, ele não vai poder

Me esquecer