terça-feira, 8 de março de 2011

Máximas e clichês



Não fale, não pense
Antes é preciso sentir

- A pior prisão é aquela em que se está preso por vontade

Não chore, não grite
Antes é preciso ver

- Pior que o sofrimento é o medo de sofrer

Não clame, não pare
Antes é preciso andar

- O caminho se faz no caminhar

Atenção, Atenção
Antes de ouvir é preciso escutar

- O silêncio, às vezes, diz mais que o falar

Tanto tempo mais, tantos clichês a mais
Quanto mais ainda terei de ouvir para entender a verdade inconteste
Minha amiga a verdade está na chuva, não no vento
A verdade não está soprando no vento, está pingando na chuva
Gota por gota, tente pegá-la, e você verá que é impossível
A verdade é uma gota que escorre pelos dedos, apenas uma ínfima parte,
De infinitas verdades
Tente pegá-las, tente juntá-las, é impossível, por que tentamos então?
"Se a assepsia total for impossível, façamos o parto na lama"

Nada me faz necessário
Eu sou irrelevante
Nem todos os livros de autoajuda do mundo podem contra esta verdade:
Eu não preciso de você, você não precisa de mim
A única necessidade é a de mantermos-nos vivos, o resto é invenção, é excedente
A vida é gratuita, mesmo sendo ela muito pesada
Nada nos faz necessário, passaríamos despercebidos, passamos despercebidos

Sem essa de querer ser imortal, é uma paixão inútil, isso já foi dito
O humano é ser fugaz, é querer transformar o fugaz em eterno
É uma busca estéril, uma luta inglória pela glória que é vã
O meu e o teu sonho é viver além da vida, é viver além do sonho,
Do sonho de sonhar que vive, a vida de um sonho, o sonho da vida...

O dia em que a paixão deixou de ser inútil


Francisco saiu de casa cedo, estava ansioso, tinha chegado o grande dia. Precisava estar bem vestido, seria uma ocasião especial, não teria mais nenhum desejo para realizar e nenhuma necessidade para satisfazer, quando saiu de casa naquela manhã. Francisco assim pensava.
Comprou do melhor sapato, como nunca se dera ao luxo; o terno era de microfibra, sempre sonhara com um daquele, a camisa para ficar tom sobre tom, tudo bem apropriado. Era realmente um grande dia.
Quando terminou de fazer as compras, Francisco pensou, precisava de um bom banho, mas antes passara no melhor cabeleireiro, deu um trato geral. Francisco era outro homem, quase além de si.
Então, decidiu alugar o melhor quarto do melhor hotel daquela cidade, assim o fez; pegou a chave, subiu, tomou um belo banho na banheira de hidromassagem, vestiu-se, perfumou-se e saiu, chegara o momento.
Entrou no elevador, em vez de descer subiu, finalmente estava subindo, mais uma vez pensou, estava imponderado, chegou ao alto do grande hotel, a cidade se abria em um grande sorriso, o sol estava encoberto, mas por nuvens claras, estava perfeito. Era o grande dia. O grande dia de Francisco.
Francisco abriu seus braços e deixou todos os pensamentos saírem, ficou leve e vazio, tão leve quanto o ar, Francisco então voou, voou, para encontrar o nada, para transcender-se. Francisco tornou-se Deus, não sentia, não desejava, era um Deus. Um verdadeiro Deus.
Na rua abaixo:
Olha, parece o faxineiro do meu prédio, coitado, uma pessoa tão boa, tão gentil, tão educado. Não, acho que não era o faxineiro lá do prédio, apesar do sangue no rosto está muito moreninho.
Hei, esse não é o encanador que foi lá em casa?, o que será que aconteceu?, parecia um homem tão lúcido.
Não, que nada, este é o cara que me deu um cheque sem fundo, não valia nada, bem feito.
Está bem vestido, parece bem importante. Esses ricos têm de tudo, ganha tudo nas mãos e não dão valor, se fosse pobre não fazia isso, é coisa de desocupado.
Hei moça, você que está chorando, você o conhecia?
Parece meu noivo, não é possível, meu Deus... ah...
Calma, calma, pode ser outra pessoa, ele está tão, tão ...
Para trás, dêem espaço, para trás, para trás...