domingo, 30 de março de 2008

CASÃO, UMA VIDA - Do blog de Alberto Helena Jr.


Neste meu meio século vagando pelas redações de jornais, rádio e tv, confesso, não consegui reunir convicção sobre a tênue linha que separa o público e o privado das celebridades. Eis por que trato desse assunto com enorme constrangimento, me questionando sempre se o médico que trata do nosso querido Casão teria o direito de revelar à revista Placar o estado clínico do ex-craque e comentarista da Globo licenciado. E, até onde a publicação estaria prestando um serviço público ao editar esse material. (...)

sábado, 29 de março de 2008

O factóide da Folha Por Luis Nassif

Não adianta. Não existe responsabilidade institucional da mídia de opinião. Seja qual for o governo, é permanente a tendência de mostrar os músculos e fabricar crises, criar factóides e “esquentar” qualquer informação como se fosse o último papel de Watergate.
Tome-se a matéria de hoje na “Folha” sobre o tal dossiê com os gastos da família de FHC – divulgado na última edição da Veja (clique aqui).
Há um levantamento de dados sobre as despesas do Palácio no governo Fernando Henrique Cardoso. Não há compra de drogas, pagamento de prostitutas, desvio de recursos. Há uma ou outra conta mais elevada em restaurantes, aluguel de automóveis, como deve haver nas despesas pessoais da família Lula. Nada que denigra FHC. E são prerrogativas do cargo.
Por outro lado, há um sistema de cartões corporativos que permitiram alguns abusos. Nada que não pudesse ser consertado com uma definição clara do que pode ou não ser gasto com ele.
Cria-se uma crise política em torno da tapioca. (...)
CONFIRA NA ÍNTEGRA:

O silêncio e a calúnia - Por Mino Carta

Pergunto aos leitores: em qual país democrático e civilizado a saída de um jornalista do peso de Paulo Henrique Amorim de um portal da importância do iG seria ignorada pelo resto da mídia? Na imprensa, a notícia só mereceu uma lacônica nota na Folha de S.Paulo, no vídeo o registro pela TV Senado de um discurso do senador Inácio Arruda, do PCdoB do Ceará, a lamentar o episódio e solidarizar-se com Amorim.
E o episódio não somente é muito grave, mas também altamente representativo da prepotência dos senhores, acobertados pelos seus sabujos midiáticos. O espetáculo da tartufaria não é surpreendente. Não cabe espanto, sequer um leve assomo de perplexidade. Tudo normal, na Terra brasilis, tão distante, tadinha, da contemporaneidade do mundo. Porque não há país democrático e civilizado onde o abrupto afastamento de um profissional tão honrado e competente quanto Amorim não teria repercussão na mídia, imediata e profunda.
Não faltaria a busca das razões que levaram o iG a agir de forma tão violenta, ao tirar Conversa Afiada do ar sem aviso prévio, ao lacrar o computador do jornalista e enxotar o pessoal da equipe da sede do portal. Bastaria este comportamento para justificar a repulsa da categoria em peso e a investigação dos interesses envolvidos, necessariamente graúdos.
Pelo contrário, ouviu-se clangoroso silêncio, quase a insinuar que, se a mídia não o noticia, o fato não aconteceu. (...)


http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=533

domingo, 23 de março de 2008

ROTEIRO DE UMA PESQUISA: AÇÃO DIRETA COMO MÁQUINA DE GUERRA NÔMADE

4. A Anarquia: máquina de guerra nômade


Não nos resta dúvida de que os anarquistas só merecem tal denominação, pelo menos na modernidade, quando se opõem politicamente ao Estado burguês e defendem uma destruição, sem concessões, a tal estrutura social. Mas para chamarmos alguém de anarquista de uma maneira mais rigorosa tal definição não basta. Para isso, temos de lançar mão de conceitos como ação direta, autogestão, e outros que nos colocarão diferenciações de toda ordem nos forçando à imprecisão necessária da denominação: anarquismos. Contudo, apesar das diferenciações e com o risco de cairmos em generalizações prejudiciais ao nosso intento, a maioria dos estudiosos do tema ficaria satisfeita se disséssemos que a ação direta e a autogestão são conceitos determinantes para a maioria dos movimentos e teorias que compreendem as diferentes aparições dos anarquismos.

Tendo colocado nosso ponto de observação e nosso alvo, resta-nos problematizá-los e denunciar suas fraquezas. Em primeiro lugar, se impõe algumas perguntas: qual a relevância de se relacionar uma teoria política pós-moderna com uma tendência anarco-comunista que valorizava em seus discursos a questão da organização? Qual a vantagem de se dizer, afinal, que a estratégia da ação direta encontra correspondência com as teorizações da máquina de guerra nômade? E afinal, tendo isso posto, restaria algo importante na idéia de ação direta anarquista depois de se constatar que os anarquistas cometeram o mesmo erro de tantos outros socialismos?

E por que não dizer, o erro de tantas outras religiões populares: o de criar uma sociedade perfeita original, o de identificar o demônio e também o de desejar um paraíso terrestre? Os socialismos por esse anglo formam uma espécie de religião sem Deus, ou pelo menos, sem a encarnação do bem, pois o bem supremo, para os mais diferentes socialismos é identificável em todas as suas manifestações.

É inegável e ainda insuperável para muitos grupos de esquerda a verdade traumática lançada por Nietzsche, a de que o socialismo fazia parte da moral dos fracos e que era fruto de um ressentimento ocidental. Não queremos, evidentemente, entrar no mérito da questão e nem poderíamos, mas na situação em que nos encontramos frente aos problemas da nossa temática é impossível desconsiderar essa crítica contundente aos socialismos.

Por outro lado, o mito da greve geral e da violência revolucionária só encontra sustentação numa reelaboração de Nietzsche, ou pelo menos, levando em conta suas idéias. Nesse sentido, a ação direta libertária e a autogestão pressupõem um autogoverno politicamente anti-opressor, mas psiquicamente também, exige um superego imponente. Sendo assim, a ação direta só é possível e digna de se estudada, descrita e discutida quando consideramos também as contribuições da psicanálise e das anti-teorias pós-modernas.

Como então, pensavam os anarquistas comunistas, em criar um futuro ou mesmo numa visão mais imediata, preparar a mudança para uma sociedade, ao mesmo tempo, libertária e organizada, ordenada e sem hierarquia, autogovernada e sem egoísmos, enfim, livre e igualitária? Quais eram seus recursos práticos e teóricos para pensar e implementar tal projeto de sociedade. Quais os suportes e aportes para a estratégia da ação direta tendo em vista que nem mesmo o mais passional dos sonhos pode sobreviver a tantas desilusões sem se tornar um pesadelo ou um fardo que pode contagiar de apatia a ação e ainda assim manter o entusiasmo que sempre foi característico dos grupos anarquistas.

A crença em uma sociedade autogerida e na preparação de uma revolução sem comando não poderia ser superficial, pois se fosse jamais poderia perdurar até os dias atuais mesmo que, como dissemos acima, mascarada numa pesquisa científica, pois, mais cedo ou mais tarde, demonstraria suas características diletantes e pernósticas.

sábado, 22 de março de 2008

ROTEIRO DE UMA PESQUISA: AÇÃO DIRETA COMO MÁQUINA DE GUERRA NÔMADE

3. Organização pressupõe governo?

É no tema da organização sem autoridade imposta, sem gerência externa, da organização sem opressão, sem dominação, em suma, sem governo que este singelo texto pretende explorar. Para isso, nos propomos deixar de lado aquela velha história de que se é ou não possível tal empreendimento, pelo simples fato de não estarmos preparados para avaliar a possibilidade prática de se implantar algo que jamais existiu, pelo simples fato de não ter existido. Precisaríamos sair da garrafa para pensarmos algo fora da garrafa, diria Wittgenstein.

O mito por si só nos é suficiente para merecer uma abordagem, pois se levarmos as coisas muito a sério chegaremos à conclusão de que o liberalismo de fato nunca existiu, e o neoliberalismo muito menos, ou pelo menos, ambos não estão completamente de acordo com seus princípios, mas o que chamamos de liberalismo e neoliberalismo continua a oprimir bilhões de pessoas em todo o mundo.

Longe de querermos fazer uma exegese das coisas e das palavras, dos significados e significantes, desejamos nos ater às condições da época, século XIX, que permitiram a emergência das idéias que distinguimos como um certo tipo de anarco-comunismo, quais fatores o motivou, quais as condições de possibilidade que permitiram a economia de trocas discursivas em torno de enunciados como “a cada segundo suas necessidades” e não mais “segundo o seu trabalho”, o que o permitiu e o que, de certa forma, o mantém, mesmo na vã tentativa de um pesquisador que se propõe a estudá-lo.

Desejamos dentro do contexto do anarco-comunismo organizacionista compreender a imensa importância do conceito de ação direta, tanto para diferenciação dos anarquismos em relação aos outros movimentos sociais, quanto para aglutinação e posicionamento de sujeitos num campo de força determinado.

Cabe aqui fazer uma distinção do tipo discursivo, que provisoriamente, podemos chamar de discursos utópicos que não necessariamente estão ligados à efetivação de seus enunciados, pelos menos não diretamente e de forma determinante. O que queremos, com isso, é que para além de sua confirmação, de sua realização, a utopia tem uma função social determinante, nesse caso, podemos, em vez de utopia, usar o termo mito, pois o mesmo já comporta uma significação mais definida, principalmente, a partir dos escritos de Georges Sorel. Mas evitaremos tal termo, pois o mesmo está ligado uma supervalorização da organização de base sindical tanto no preparo da revolução, por meio da greve geral, quanto da administração da sociedade comunista, a partir dos conselhos de fábrica.

O conceito de mito soreliano está acoplado a prática do sindicalismo revolucionário e, mais estritamente, ao anarcossindicalismo que se chocava em pontos estratégicos determinantes com o anarco-comunismo, a qual pretendemos concentrar esforços de pesquisa na compreensão de sua estratégia e conduta ética que a nosso ver, está intimamente relacionada com a concepção de ação direta. Por isso, tendemos a utilizar, pelo menos inicialmente, o termo utopia, tentando, contudo, primeiro abastecê-lo com as contribuições de Sorel e segundo romper com o modo pejorativo com que foi tratado a partir do Manifesto do Partido Comunista.

Outro passo, nessa nossa empreitada é nos situar. Já apontamos o nosso alvo, resta revelarmos, nosso ponto de observação. Como estamos dentro da garrafa, o máximo que conseguimos fazer é nos situar em um contra discurso estatista que percorreu uma longa jornada até chegar ao que consideramos sua forma mais altiva: a máquina de guerra de Deleuze e Gattari. Quando falamos em uma longa jornada, não queremos marcar uma continuidade no discurso, mas no objeto, isto é, no alvo: o Estado.

Com isso, já temos a deixa para adentrar a hipótese mais importante da crítica ao estatismo como norteador da ação política direta desde tempos imemoriais. Tal hipótese, inspirada na grande pesquisa de Clastres e descrita por Deleuze e Gattari em seu “Tratado sobre o nomadismo” que compõe, em versão brasileira, o volume 5 de Mil Platôs: é a de que o Estado sempre existiu, como também sempre existiu uma organização de resistência a ele. Com isso Deleuze e Gattari rebatem o velho vício do “bom selvagem”, que culminava inexoravelmente para uma idealização de uma sociedade perfeita seja num passado imemorial, ou num futuro desejado pelas utopias sociais. Em suma, essa idealização de um antes e um depois perfeitos constitui-se o vicio ao qual todos os socialismos revolucionários ficaram dependentes, inclusive, os anarquistas contrários a governos provisórios de transição.

sexta-feira, 21 de março de 2008

ROTEIRO DE UMA PESQUISA: AÇÃO DIRETA COMO MÁQUINA DE GUERRA NÔMADE

2. Os Anarco-comunismos

Dentre os vários grupos de militantes e dentre as diversas tendências, talvez, a anarco-comunista de Malatesta tenha sido a que mais se preocupou com problema da organização. No contexto dessa preocupação, emergiram os discursos do anarco-comunismo italiano que marcava uma significativa diferença em relação à corrente anarco-comunista de Kropotkin.

A esta mudança podemos tecer algumas considerações, dentre elas, a de que diante do estigma negativo em torno do anarquismo criado pelos atentados terroristas de militantes que seguiam uma tática do desespero, da propaganda pela ação, havia uma propensão entre os herdeiros de Bakunin, a mudar tal imagem, o que garantiu as condições de possibilidades para o surgimento do discurso anarco-comunista predominante, pelo menos inicialmente, kropotkiano.

Os enunciados de tal discurso orbitava em torno de uma pacificação da ação libertária, da humanização da imagem do militante anarquista e da ponderação do radicalismo, buscando, para isso, uma legitimidade no saber científico. Nesse sentido, o arcabouço teórico de sustentação de tal discurso fundava-se na idéia geral de progresso contínuo da humanidade rumo a uma ética anarquista. Embora, evolucionista, Kropotkin, destacava um outro mecanismo evolutivo, que atuava com muito mais constância e determinação na sucessão das gerações das espécies que a seleção natural de Darwin. Para Kropotkin, o apoio mútuo entre membros da mesma espécie era preponderante na evolução dos seres vivos. Assim, se fundamentava cientificamente uma evolução da consciência humana rumo a uma ética racionalmente superior que não mais necessitaria de leis, já que as pessoas sem as instituições de poder, poderiam fundadas numa ética da autogestão, dispensar os governos.

O discurso típico do anarco-comunismo emerge nesse contexto, de uma tentativa de mostrar para a “opinião pública” que o anarquismo não era e nem nunca tinha sido uma doutrina demoníaca onde se abrigavam terroristas de toda ordem. Nesse sentido, a parte, todo o ranço cientificista e evolucionista de Kropotkin sua inserção teórica nos ideários anarquistas foi de grande valia.

Não obstante, Malatesta e outros, também muito cedo perceberam que a preponderância dos discursos kropotkianos poderia gerar uma apatia ao movimento libertário, posto que ressaltava a evolução para uma consciência ética em detrimento da luta entre as forças sociais. Isso ficava claro com idéia de que a sociedade comunista poderia surgir espontaneamente, e mesmo levando em conta que Kropotkin nunca tenha abdicado inteiramente da idéia de uma revolução, contudo, sua noção de revolução era uma evolução acelerada e não uma completa ruptura como apregoava Bakunin, com seu lema destruir é construir.

quinta-feira, 20 de março de 2008

ROTEIRO DE UMA PESQUISA: AÇÃO DIRETA COMO MÁQUINA DE GUERRA NÔMADE

1. Ação Direta: autogoverno e moralidade

Um ponto chave para o entendimento da dimensão complexa do termo ação direta no contexto dos anarquismos é o objetivo tácito, sobretudo, da criação de uma organização autogerida por valores morais internalizados individualmente e, ao mesmo tempo, em sintonia com uma vivência em comunidade que, com isso, preserve a igualdade sem constranger a liberdade individual.

Isso nos remete ao grande problema da organização da sociedade futura e do preparo para a revolução que levaria a esta sociedade. Para os anarquistas, um ponto é fundamental: a autogestão tanto no caminho à sociedade comunista, quanto ao fim a se alcançar, a própria sociedade igualitária. Para os anarquistas, os fins não justificam os meios, os meios já são partes do fim. É por isso, que a conduta dos militantes deveria ser exemplar e jamais cair na tentação de se constituir em guias dos trabalhadores. Já escrevia Bakunin que a ditadura da ciência, isto é, a da classe que detém o monopólio do conhecimento é o pior de todos os autoritarismos.

Para os anarquistas, jamais valeria a pena, nem que fosse em prol do sucesso da revolução, o sacrifício da liberdade individual ou a condução da revolução por uma elite. Este é o divisor de águas que separa os diversos outros socialismos dos anarquismos. No mais, anarquista que se preze preferiria sempre ver mil vezes a falência de seus objetivos a ter que governar nem que para o “bem”, a sociedade. Muitos deixaram de ser anarquistas ao enfrentar na prática este dilema, outros tantos, continuaram fiéis ao ideal libertário resignando-se à frustração, e alguns poucos continuaram perseverantes e jamais desistiram de lutar, nem que tal luta se restringisse a propaganda libertária apenas.