sexta-feira, 21 de março de 2008

ROTEIRO DE UMA PESQUISA: AÇÃO DIRETA COMO MÁQUINA DE GUERRA NÔMADE

2. Os Anarco-comunismos

Dentre os vários grupos de militantes e dentre as diversas tendências, talvez, a anarco-comunista de Malatesta tenha sido a que mais se preocupou com problema da organização. No contexto dessa preocupação, emergiram os discursos do anarco-comunismo italiano que marcava uma significativa diferença em relação à corrente anarco-comunista de Kropotkin.

A esta mudança podemos tecer algumas considerações, dentre elas, a de que diante do estigma negativo em torno do anarquismo criado pelos atentados terroristas de militantes que seguiam uma tática do desespero, da propaganda pela ação, havia uma propensão entre os herdeiros de Bakunin, a mudar tal imagem, o que garantiu as condições de possibilidades para o surgimento do discurso anarco-comunista predominante, pelo menos inicialmente, kropotkiano.

Os enunciados de tal discurso orbitava em torno de uma pacificação da ação libertária, da humanização da imagem do militante anarquista e da ponderação do radicalismo, buscando, para isso, uma legitimidade no saber científico. Nesse sentido, o arcabouço teórico de sustentação de tal discurso fundava-se na idéia geral de progresso contínuo da humanidade rumo a uma ética anarquista. Embora, evolucionista, Kropotkin, destacava um outro mecanismo evolutivo, que atuava com muito mais constância e determinação na sucessão das gerações das espécies que a seleção natural de Darwin. Para Kropotkin, o apoio mútuo entre membros da mesma espécie era preponderante na evolução dos seres vivos. Assim, se fundamentava cientificamente uma evolução da consciência humana rumo a uma ética racionalmente superior que não mais necessitaria de leis, já que as pessoas sem as instituições de poder, poderiam fundadas numa ética da autogestão, dispensar os governos.

O discurso típico do anarco-comunismo emerge nesse contexto, de uma tentativa de mostrar para a “opinião pública” que o anarquismo não era e nem nunca tinha sido uma doutrina demoníaca onde se abrigavam terroristas de toda ordem. Nesse sentido, a parte, todo o ranço cientificista e evolucionista de Kropotkin sua inserção teórica nos ideários anarquistas foi de grande valia.

Não obstante, Malatesta e outros, também muito cedo perceberam que a preponderância dos discursos kropotkianos poderia gerar uma apatia ao movimento libertário, posto que ressaltava a evolução para uma consciência ética em detrimento da luta entre as forças sociais. Isso ficava claro com idéia de que a sociedade comunista poderia surgir espontaneamente, e mesmo levando em conta que Kropotkin nunca tenha abdicado inteiramente da idéia de uma revolução, contudo, sua noção de revolução era uma evolução acelerada e não uma completa ruptura como apregoava Bakunin, com seu lema destruir é construir.

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