quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ilha das Flores - Jorge Furtado



Ilha das Flores é sem dúvida um dos melhores curtas brasileiros, embora, como toda obra, esteja datado, ainda consegue transpor as barreiras do tempo e continua muito relevante, principalmente para as aulas de história, para que não seja como aquela a que o filme se remete.

As famílias brasileiras mudaram, não é mais preciso homem e mulher concomitantemente para formar um núcleo familiar (ainda bem), mas a pobreza (muito mais) e a miséria continuam e o lixo é um problema ainda muito mais grave hoje em dia.

No entanto, o que mais chama atenção no filme é sua narrativa didática e envolvente que consegue desnudar as contradições do capitalismo, como o consumismo de um lado e a miséria de outro. O filme nos leva ao limite extremo do absurdo da monetarização da vida: que chega a rebaixar um ser humano "o mamífero bípede, com telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor" a um posição inferior ao do porco, isto porque os seres humanos na ocasião são livres e sem dono, ao contrário do porco.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Adeus, Lenin... Adeus a nós!



Recentemente assiti ao filme: Adeus, Lenin. Fiquei impressionado por vários motivos, o principal foi talvez a crítica sutil que faz a este mundo consumista e sem sentido em que vivemos, e que engoliu todos os outros mundos possiveis, talvez.

Até mesmo aquele mundo patético a que alguns novos e velhos liberais insistem em chamar de comunismo. Mundo aquele criado sobre formalidades triviais, excessivamente regrado e previsível, mas que era o porto seguro, e por certo uma segurança bastante confortável quando comparado com a imprevisibilidade deste nosso mundo.

O mundo do out door da coca-cola (símbolo da abertura econômica) que quase coloca tudo a perder, e na verdade coloca tudo a perder, pois a partir dali nada é mais certo, a segurança burocrática da rotina tediosa sede lugar ao "todos contra todos" e ao "tudo ao mesmo tempo agora".

Talvez seja um filme nostálgico, se centrarmos na personagem que desperta do coma, mas não seria o caso de sentirmos um pouco de nostalgia estando confinados num mundo sem lugar, deslocado constantemente, em que sentimentos inconstantes se confundem até ceder espaço à frieza e ao medo do outro, e de nós mesmos?

Apenas algumas palavras de ocasião... apenas


Apenas...

Quando eu me vi depois
Tive medo de você
De voltar a te ver
De voltar a me ver assim

Não sei onde vou,
Não sei o que deixei
Mas sei que estou
Mudado depois que te vi

Depois que senti você
Depois que senti você
O mundo está estranho
Mais estranho do que era

Continuo o esquisito
O motivo das risadas,
Mas parece que já não ligo
Não tenho medo de tentar ser eu

Mas quem sou eu?
Este eu, eu tentei esconder de mim
Por tanto tempo, para agradar os outros
Ou melhor, não desagradar, tanto

Então o que eu sou, não fui
Para não desagradar os outros
Que eu detestava
E que eu nem ligava?

Eu sou o eu
Que tentei esconder dos outros
Eu sou o eu que vi nos seus olhos
Que não me reprovaram quando me viu

E o que era não faz mais sentido
Os meus planos e sonhos
Hoje já não fazem sentido
Eu não sei mais como

Te dizer isso é necessário
Mas muito difícil
Embora seja o que desejo
E o que preciso

Preciso? Não sei
Acho que estar com você é suficiente
Nada mais é necessário
Você não precisa saber, e eu preciso viver...
Apenas!