segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Absurdo é Viver



Estava eu perambulando pela livraria (este hábito faz parte de um dos meus vícios saudáveis) quando me deparei com "O Mito de Sísifo" de Camus. Conhecia o autor, já havia lido o "Estrangeiro" e parte do "Homem Revoltado", mas não conhecia tal livro. Como adoro o mito de Sísifo, uma metáfora perfeita de nosso mundo do trabalho, resolvi dar uma folheada. E qual não foi o meu espanto quando li na primeira linha do primeiro capítulo: "Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio".

Não resisti e comprei-o.

Camus disserta sobre o absurdo que é a vida e como o homem absurdo se comporta perante ela. O suicídio que aparentemente seria uma decisão absurda, na verdade, não é. Para ser absurdo, explica o filósofo argelino, é preciso ser consciente da gratuidade da vida, do vazio, da falta de sentido; dessa forma, viver é que é um absurdo. Dar termo a própria vida, ao contrário, é ser Deus (um sentido extra-humano para dar sentido ao absurdo humano), é, enfim, dar um sentido à vida, ou melhor, realizar sua única determinação, sua verdade: a morte.

Em outras palavras, cometer suicídio é realizar seu destino, apressando-o. O homem absurdo, para Camus, se caracteriza por ser livre, apaixonado e revoltado, sem esquecer que tanto a liberdade, a paixão, quanto a revolta são atos inúteis, a diferença é que o homem que vive seu absurdo tem consciência disso e joga o jogo. Ele é livre sem buscar fundamento para sua liberdade e nem meta para realizá-la, é apaixonado sem querer explicar sua paixão e é revoltado por ser isto, a sua realização mais fundamental.

domingo, 15 de novembro de 2009

"Vamos estar fazendo a revolução"



Quem diria? Uma juventude baladeira e comunista!? "Vamos estar fazendo a revolução". "A reunião do sindicato vai ser lá na Rave entre um hit e outro". O PC do B decidiu seguir a tendência e anda investindo nos sindicatos "emergentes" dos telemarketings, os metalúrgicos da vez. Utilizam linguagens em moda para "doutrinar" as novas cabeças, tem laços estreitos com a chamada cultura jovem e "governa" a UNE há mais de 20 anos. Vale a penas ler a reportagem de Gilberto Nascimento para a Carta Capital.

domingo, 8 de novembro de 2009

Alguma coisa acontece no meu coração... que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João




Reler "Malagueta, Perus e Bacanaço" de João Antônio foi o grande deleite que me permiti realizar neste sábado. Andar pelas ruas da "Paulicéia Desvairada", conviver com suas personagens típicas: os coiós, as piranhas, os mocorongos, os trouxas, os pixotes, os cavalos-de-teta, os otários, os vida mansas, enfim, os malandros, os vagabundos na luta pela sobrevivência.


Em torno de uma ética da sinuca surgem esses diferentes tipos sociais que povoam ou povoavam a grande metrópole. O ganho fácil e raro dos malandros de plantão que esperam dias para dar o golpe em algum coió. Até chegar a maré de azar que os levam direto para a boca de alguma piranha, o policial corrupto, o malandro da lei, que vive a espreita para surrupiar e humilhar os vagabundos.


João Antônio mostra a podridão da vida, o seu lado escuro, que pouco aparece nos livros de poesia, mesmo sendo a mais bela poesia. Não há inocentes na pena desse escritor que também foi boêmio.

Ele sabe e descreve o malandro cafetão, que bate na mulher que se vende para sustentá-lo. Aquele que a espanca mesmo quando ela lhe traz o ganho de sua labuta. Sabe que ele bate apenas para que ela não esqueça quem é que manda. Assim é Bacanaço.

Há também o alcoólatra desempregado que mora no morro e vive a custa de favores e esmolas como Malagueta.
O jovem órfão que vive a solta na escola diária da malandragem como Perus. Mas há muitos outros, todos anti-heróis nessa vida nada heróica, trágica e infeliz que se desenrola como numa partida de sinuca:


"Cada um tem a sua bola numerada e que não pode ser embocada. Cada um defende a sua e atira na do outro. Aquele se defende e atira na do outro. Assim, assim, vão os homens nas bolas. Forma-se a roda com cinco, seis, setes e até oito homens. O bolo. Cada homem tem uma bola que tem duas vidas. Se a bola cai o homem perde uma vida. Se perder as duas vidas poderá recomeçar com o dobro da casada. Mas ganha uma vida só...

Fervia no Joana d'Arc o jogo triste da vida".


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sutilmente (Samuel Rosa e Nando Reis)

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce

Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

http://www.kboing.com.br/script/radioonline/radio/player.php?musica=1006243&op=1&rd=523231

domingo, 25 de outubro de 2009

Diálogos metacotidianos: Walter Benjamin e “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”

Nota introdutória


Este texto é um trabalho sobre “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” de Walter Benjamin para disciplina Tópicos Especiais em História Contemporânea ministrada pelo prof. Hermetes Reis de Araújo nos idos de 2000, quando eu, Adonile Guimarães e Ianni Sousa cursávamos a Graduação de História na Universidade Federal de Uberlândia.



Resumo Crítico do texto de Walter Benjamin:
“A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”


A noite despencava do céu trazendo consigo a sensação torturante do cansaço. Caminhávamos em direção ao ponto de ônibus pensando na elaboração do nosso trabalho de Tópicos Especiais em História Contemporânea. Vínhamos de uma aula extenuante em que o professor, um baixinho de óculos muito simpático nos deu a tarefa de explicar resumidamente o texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” de Walter Benjamin.



DIÁLOGOS


Adonile – Como é que iremos explicar este texto para um irmão mais novo, se não temos irmãos?


Ianni – Basta fingirmos que temos. É uma situação hipotética Adonile.
Adonile – Claro eu sei, eu tô brincando, até porque eu tenho irmão mais novo e ele é filósofo especialista em “Escola de Frankfurt”. (sorri sarcástico para Ianni e esta responde com olhar sério)


Adonile – Tudo bem, vou falar sério agora. Fazer um resumo do texto de Benjamin é muito complicado, é um texto muito complexo e, além do mais, temos pouco tempo.


Ianni – Temos pouco tempo? Graças a você temos pouco tempo.
(O ônibus chega, eles entram e Ianni senta-se ao lado de um adolescente e Adonile fica em pé a sua frente).


Ianni – Pois é Adonile, além de termos pouco tempo. (falando com um olhar cínico ao Adonile)
Ao tentarmos sintetizar, não podemos vulgarizar o texto de Benjamin.
(Um “abelhudo” entra na conversa).


Abelhudo – Quem é esse tal de Walter Benjamin?
(Adonile com ar de professor tenta responder a pergunta).
Am... Ah! Ele é um filósofo que nasceu em 1892, na Alemanha, filhos de pais judeus e que, logo cedo irá demonstrar interesse por literatura e filosofia.


Abelhudo – ah! E Por que pode acontecer de vocês vulgarizarem o texto deste cara? Sobre o que é o texto dele?


Ianni – Ah...Bem, Ele é um autor que tem uma formação intelectual muito diversificada, no seu pensamento podemos encontrar tanto elementos da tradição judaica como do marxismo.


Abelhudo – Ah...(Expressão de quem não entendeu nada).


Adonile – E o texto ao qual nos referimos tem como tema a arte na modernidade, isto é, procura explicar, entre outras coisas, quais as conseqüências que o advento da tecnologia provocou na percepção humana, mais especificamente, na sensibilidade humana sobre as artes. Depois do avanço tecnológico que permite reproduzir uma revista, um cd ou uma fita de vídeo quantas vezes forem necessárias, a obra de arte perde sua aura.


Abelhudo – E...peraí o que é aura?


Ianni – Aura é a unicidade da obra, seria você ver a Monalisa de Leonardo da Vinci e ter certeza de que ela é a única, de perceber nela toda a carga dos anos que a obra carrega e mais, sentir que tal momento de apreciação é único e que jamais poderá senti-lo de novo.


Adonile – Com o surgimento da reprodução tecnológica isso já não acontece, por exemplo, um show do Caetano Veloso, você pode ouvir em casa deitado no sofá, e sabe que todos que tiverem dinheiro para comprar o cd, também podem. Daí, podemos perceber que essa nova situação está ligada a sociedade capitalista que transforma a arte em mercadoria.


Abelhudo – Então não existe mais arte?


Ianni – Não, não é bem assim, e é aí que reside a originalidade de Benjamin, ele disse que, embora, exista o fato da arte ser exposta em vários lugares ao mesmo tempo e, é isso que faz com que ela perca sua aura, não quer dizer que a arte deixa de ser arte, apenas não podemos ver a arte como víamos antigamente, até porque nossa percepção muda ao longo da História.


Adonile – É isso aí, Benjamin fala em seu texto que com a invenção da fotografia e, principalmente, com o cinema, a arte deixa de ser objeto de culto destinado apenas a especialistas. O Cinema, por exemplo, em sua origem já é destinado às massas pelo seu alto custo de produção. É nesse sentido que Benjamin dizia que as pessoas teriam muito mais possibilidades de mostrarem os seus talentos, pois a arte tem atualmente uma linguagem mais popular. Ela é atualmente destinada a um público maior. É por isso que nós, por exemplo, podemos nos assustar com um quadro de Salvador Dali que tentava representar os sonhos em sua pintura, mas achamos perfeitamente compreensível um filme de Charles Chaplin. O cinema, na maioria das vezes, tem como tema as nossas ações cotidianas e, portanto, está presente em nossa vida, ao contrário da pintura que tem uma linguagem menos acessível ao público e ainda exige análise de especialista.


Ianni – Porém, é bom destacar...

A propósito qual é mesmo seu nome?


Abelhudo – Meu nome é Paulo Abelha.

E o seu?


Ianni – O meu é Ianni.


Paulo Abelha – Eliane.


Ianni – Não, I-A-N-N-I, Ianni!


Adonile – (contagiado pelo Abelhudo). Você não perguntou, mas eu me chamo Adonile, com a sílaba tônica no “ni”.


Abelha – A tá!


Ianni - Mas como eu ia dizendo... ah! É isso Adonile! O que nós temos que destacar no nosso trabalho, é que em 1936, que é quando Benjamin escreveu seu ensaio, ele havia percebido que a reprodução técnica poderia ser utilizada para passar mensagens ao povo na forma de diversão.


Adonile – É o que ele – mais ou menos – chama de “percepção distraída”.


Ianni – E naquele momento ele estava preocupado com a utilização destes meios pelos fascistas, pois aí, eles conseguiriam passar todos os seus preceitos e ideologias utilizando, por exemplo, o cinema.


Adonile – E é isso que de fato aconteceu, o cinema acaba-se tornando um meio de propaganda dos regimes fascistas.


Abelha – Mas, vem cá. O que aquilo que aconteceu na Itália tem a ver com cinema?


Adonile – Ah, tá! Legal. É o seguinte: o fascismo que a Ianni lhe disse e o qual Benjamin fala não está restrito ao que aconteceu na Itália na 2ª Guerra Mundial com Mussolini, ele se refere a uma ideologia de extrema direita, que é conservadora, mas se apresenta como a salvação de todos os males. O que também aconteceu na Alemanha e é conhecido como Nazismo.


Abelha – Ahh...Mas e o cinema onde entra nesta história?


Ianni - Então, o que Benjamin conseguiu ver já em 1936 é que as artes transformadas pela reprodução tecnológica perdem o caráter que tinham antes, ou seja, por se tornarem objetos de reprodução e alcançar um público cada vez maior, a arte aumenta seu potencial político, que é o de convencer as pessoas, sem estas perceberem, a seguirem determinado caminho ou agirem de tal forma.


Abelha – Ah! Já sei. Então para um filme ser fascista ou revolucionário vai depender do diretor?


Adonile – Mais ou menos isto, pois o diretor atualmente não tem tanta liberdade assim. E Benjamin quando escreve ainda não tinha o exemplo de filmes como os de Godard ou Antonioni que são exemplos de inovações; então, ele ainda não podia ver o cinema como uma arte que poderia ser utilizada para fins revolucionários, a não ser para a crítica da própria estética da arte. Mas, é interessante essa pergunta porque Benjamin fala em outro texto: “O autor como produtor” da responsabilidade do artista contemporâneo. [1]


Ianni – É isso aí, ele diz no texto que o artista não deve apenas se preocupar com o conteúdo da sua obra, porque se assim for, o seu efeito prático na sociedade irá logo se perder, pois tende a virar um simples objeto de consumo. O artista e aí ele está pensando no teatro, já que, como o Adonile disse, ele ainda não tinha o exemplo do cinema. Bem, o artista, segundo Benjamin, tem que saber modificar a relação entre o público e a obra.


Adonile – Por exemplo, a gente não tem que ir ao cinema esperando apenas que o filme nos emocione, que nos faça rir ou chorar, pois se assim for, o filme estaria nos iludindo, nos impedindo de ver que a realidade lá fora é bem pior. O filme tem também que nos fazer pensar nos nossos problemas e não apenas mostrar uma ficção que fala de coisas inacreditáveis, o filme tem que nos fazer com que coloquemos os pés no chão e com que paremos para pensar em respostas para nossas angústias.


Abelha – Ah...Acho que vocês me fizeram perceber que eu nunca havia pensado nisso e que...Ah...Meu Deus, meu ponto era ali (apontando para trás), eu tenho que descer (puxa a campainha), tchau pessoal legal conversar com vo-ceeeeês (desce e ônibus vai embora o deixando para trás).


Adonile e Ianni – Tchau! Falô!


Adonile – Que dia nós vamos nos reunir?


Ianni – Só depois da 2ª feira, porque temos que estudar para a prova da Heloísa.
(O ônibus encosta-se à plataforma do terminal, Ianni e Adonile descem).


Adonile – terça-feira à tarde, pode ser?


Ianni – Pode. O meu ônibus. Depois a gente combina direitinho. Tchau, bom final de semana pra você!


Adonile – Tchau, pra você também.


[1] Havia os Filmes de Eisenstein, que eram filmes que tentavam vender idéias que legitimavam a opção da Rússia pelo socialismo e, portanto, não buscavam mudanças e sim justificar a situação. Benjamin, fala em revolução, tendência justa, pensando na arte como oposição a uma sociedade capitalista já estabelecida.

domingo, 11 de outubro de 2009

Viver é iniciar o novo... de novo



Quando não se pode mais ver o brilho da vida
Quando não se sente mais a leveza das coisas
Quando se quer chegar a algum lugar que não se sabe o caminho
Nem o porquê
É preciso parar
É preciso parar de correr
É preciso lembrar o que te levou até ali

De repente a sua estrada se fechou e tudo a sua volta ficou estranho
O suor que desce do seu rosto amarga a vida
Seus passos antes seguros parecem te levar a lugar algum
A sua certeza se desmancha no ar
O sorriso trêmulo mal disfarça a angústia

De repente você descobre que o que escolheu
Não foi você que escolheu
Que o que fez foi realizar um desejo alheio
Estranho a você

De repente você se torna alguém estranho a si mesmo
Você se torna outro de si mesmo
Qual é o sentido de sua vida
Nem mesmo essa pergunta faz mais sentido

A sua vida é um absurdo
Nesse momento, tudo é possível
Quando tudo é um imenso nada
Quando nada mais lhe faz sentido
É quando tudo pode ter qualquer sentido

Qualquer lugar pode ser um ponto para um novo começo
Ser humano é isto, é sempre poder começar de novo

Viver é iniciar o novo
De novo


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Não há limites para essa quadrilha!




"O embuste dos kits
21/09/2009 12:25:19
Leandro Fortes




Na manhã de 16 de junho, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM, e o secretário de Saúde Distrital, Augusto Carvalho, do PPS, se encontraram no Almoxarifado Central da Secretaria para participar de um lance de marketing: a entrega de 30 kits de equipamentos, no valor de 3 milhões de reais, para desafogar a precária rede de unidades de terapia intensiva (UTIs) do sistema de saúde local. O evento, como logo em seguida iria demonstrar o Ministério Público, era um embuste. A compra não só era falsa como a transação escondia parte de um esquema voltado para a privatização da saúde no DF.


Dois dias depois, ao mesmo Almoxarifado se dirigiu um grupo liderado pelo promotor Jairo Bisol, do Ministério Público do Distrito Federal, titular da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus). Acompanhado de um perito e dois analistas, todos médicos, Bisol descobriu que os equipamentos eram, além de usados, tecnologicamente obsoletos. Além disso, a maioria não tinha nota fiscal nem qualquer documento a lhe atestar a origem. O destinatário da mercadoria não era o secretário Augusto Carvalho, mas duas pessoas estranhas ao serviço público: Gustavo Teixeira de Aquino e Marisete Anes de Carvalho.


No endereço indicado nas caixas, um escritório no Setor Sudoeste de Brasília, o Ministério Público localizou a empresária Marisete Carvalho, dona de uma pequena empresa de reformas de condomínios e de comércio de equipamentos hospitalares. Marisete é um dos elos a unir os negócios da saúde no Distrito Federal a um esquema de contratos irregulares descoberto pelo MP do DF, com potencial de se transformar numa ação de improbidade administrativa contra diversas autoridades brasilienses".


(...)


domingo, 13 de setembro de 2009

Um bom recomeço




Rosane Pavam
11/09/2009 14:13:35


Uma novidade corre solta no cinema americano. Ela está contida em Che 2, que estreia na sexta 18, e em Che, a primeira parte da obra, exibida no Brasil em março. Ambos os filmes de Steven Soderbergh, produzidos e protagonizados por um corajoso e dedicado Benicio del Toro, buscam o cinema que se fazia antes e se orgulham dele, enquanto o atualizam.


Os dois filmes fogem dos efeitos computadorizados, das granulações, da fotografia amarelada e do balouçar da câmera-bebê, itens marcantes dos filmes de arte destes tempos, na verdade subdramas da televisão, sem seu ocasional humor. Filmes como esses dois, sobre a trajetória do revolucionário cubano Che Guevara, arquirrival nas terras norte-americanas, não transformam a precariedade em um padrão a ser subliminarmente seguido pela indústria cinematográfica. O diretor sabe o que quer dizer e diz. (...)


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Relato do Minicurso sobre anarquismo:


“Não se deixar representar... viver a autonomia: ação direta e violência revolucionária no pensamento anarquista” [1]

Adonile Guimarães & Thiago Lemos

Apresentamos esse minicurso porque compreendemos que é importante trazer para o debate político atual a possibilidade de novas estratégias de luta e resistência e, ao mesmo tempo, provocar um debate acerca da violência revolucionária e as suas diversas formas de manifestação contra os outros tipos de violência considerados legítimos: repressão policial, opressão estatal, exclusão social. Ancoramos essa discussão no conceito político de ação direta, dando ênfase nos movimentos anarquistas e sindicalistas revolucionários, manifestações importantes tanto em nível nacional quanto internacional.

Primeiramente, abordamos o processo de emergência e consolidação do anarquismo, enquanto um movimento revolucionário, que toma a sua forma histórica na ação e propaganda de Mikhail Bakunin e seus seguidores na Primeira Internacional em 1869. Nesse sentido, argumentamos que a ação econômica defendida pelos bakuninistas serviu para demarcar a especificidade assumida pela estratégia revolucionária anarquista, que surgiu em oposição à estratégia revolucionária marxista, identificada, ao menos naquele contexto, com a ação política. A despeito da terminologia evocada, acreditamos que a ação econômica reivindicada pelos anarquistas naquele contexto foi o primeiro móvel de expressão da ação direta, que, diferentemente da ação política defendida por Marx, pregava a atuação revolucionária dos trabalhadores fora dos quadros partidários.

Para o reforço de tal tese, passamos em revista, ainda que de forma sucinta, alguns tópicos concernentes ao debate travado entre Marx e Bakunin no seio da Primeira Internacional.

Num segundo momento, focalizamos o anarquismo terrorista. Explanamos que no período que sucedeu a destruição da Comuna de Paris em 1871, os anarquistas principiaram uma série de ações que objetivavam chamar a atenção do povo para a causa revolucionária. Essa propaganda levada a cabo pela ação incluía desde a explosão de prédios públicos até o roubo aos mais abastados, passando pelo assassínio de autoridades políticas. Mais uma vez, apesar da evocação terminológica, defendemos que a propaganda pela ação foi uma forma a partir da qual os anarquistas entenderam a ação direta.

A esse respeito pretendemos expor e comentar a recepção que a “propaganda pela ação” recebeu nos meios anarquistas. A repercussão negativa que esta modalidade da ação direta alcançou, principalmente na imprensa burguesa da época, levou os libertários a colocar em questão a (in) pertinência da utilização de métodos violentos no processo revolucionário. É possível alcançar a sociedade anárquica por meio da violência? Se sim, em quais condições ela poderia ser usada? Há a possibilidade de usar a violência, sem descambar para o terror? Dito de outra forma, é exeqüível fazer um uso ético da violência em nome dos preceitos ácratas? Tais questões que perseguiram, durante muito tempo, os anarquistas foram, ainda que minimamente, retomadas e discutidas no decorrer do minicurso.

Posteriormente, o eixo de nossa análise se deslocou em direção ao contexto histórico em que se deu, em virtude da entrada dos anarquistas no sindicato, o surgimento do sindicalismo revolucionário na França entre o fim do século XIX e o início do século XX. Examinamos a Federação das Bolsas de Trabalho e a Confederação Geral do Trabalho, intencionando verificar o envolvimento dos anarquistas nestas duas instituições, e, a partir daí, perceber as mudanças sofridas pela ação direta enquanto uma estratégia anarquista que passou a ser vinculada, quase que exclusivamente, ao mundo do trabalho, se manifestando através das práticas de boicote, sabotagem e greve.

No entanto, mostramos que o ingresso dos anarquistas nos sindicatos trouxe muito mais problemas do que soluções. As discussões, acontecidas em uma escala de alcance internacional, atestaram o fato de que anarquistas sindicalistas e anarco-comunistas não se encontravam totalmente de acordo com as prédicas do sindicalismo (doravante chamado) revolucionário. Os anarquistas, uma vez ingressos no sindicato, deveriam permanecer eternamente nele? Eles poderiam apenas fazer propaganda ou ocupar funções diretivas? O sindicato era um meio ou um fim na consecução dos objetivos libertários? Estas são algumas, dentre várias, questões colocadas pelos anarquistas em relação ao sindicalismo que investigamos em nosso minicurso.

Para tanto, discutimos a posição assumida por dois grandes anarquistas: Errico Malatesta e Pierre Monatte, que, cada um ao seu modo, formularam e conceberam diferentes concepções do que deveria ser a tarefa dos sindicatos. Discutimos ainda uma terceira posição: Neno Vasco que, em nossa avaliação, ocupa uma posição intermediária entre aquela assumida por Malatesta e Monatte.

E por fim, averiguamos a atualidade da ação direta. Trabalhamos com a certeza de que a experiência libertária não é coisa do passado, mas toma parte importante nas lutas cotidianas dos oprimidos contra os diversos regimes de poder a que estamos hoje submetidos.

Portanto, trabalhamos com os temas do anarquismo não apenas para informar e ensinar o que foi as diferentes facetas do anarquismo como movimento social revolucionário, mas, diferentemente, para despertar a discussão e o debate a temas que ainda hoje nos afetam como o assujeitamento passível a burocracias e hierarquias cada vez mais insidiosas e desprovidas de sentido e a desilusão intensa com os políticos, nossos ditos representantes que se tornaram uma casta que nos envergonha, causa descrença, mas é incapaz de nos incitar a revolta, pelo menos numa escala mais ampla e conseqüente.

[1] O minicurso foi apresentado na Semana de História/X Encontro Regional de Professores de História do Triângulo Mineiro, na Universidade Federal de Uberlândia/ Campus Santa Mônica, nos dias 22, 23 e 24 de junho.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Segurança em troca de sua liberdade!? A tática do fundamentalismo democrático!


Vivemos em um imaginário de medo, em grande parte, real, mas em muitas oportunidades, hiperbolizado pelos poderes instituídos. Isso acontece com claro intuito de cercear a liberdade dos indivíduos dando-lhes em troca a tão valiosa segurança. Há uma clara oposição na sociedade atual entre liberdade e segurança. Quanto mais liberdade mais insegurança e vice-versa. Há também um evidente discurso que busca nos acostumar a dar mais valor à segurança.


A liberdade seria aquilo que deveríamos sacrificar para termos segurança, para preservarmos a espécie. Em contrapartida, delegaríamos nossa soberania a outrem, instituindo assim, uma esfera de poder acima de todos os indivíduos, assim se formou o Estado. Isso remonta desde Hobbes, no mínimo.


Porém, está cada vez mais presente nos dias atuais, cada vez mais disseminado no nosso dia-a-dia, a exemplo das câmeras de tv dos estabelecimentos comerciais, presente também nas ruas e avenidas monitorando todos os nossos passos naturalmente vigiados. Isso já faz parte do nosso cotidiano, não discutimos, não reclamamos, pelo contrário, nos sentimos mais seguros; ser vigiado, controlado virou sinônimo de segurança... Liberdade?, para que serve isso mesmo?


Essa estratégia de poder obscurece o verdadeiro cerne da questão: a de que não há uma relação direta entre liberdade e segurança, uma não exclui a outra, desde que, as normas e os critérios de controles sejam igualmente distribuídos e igualmente administrados.


Obviamente, isso não interessa aos dirigentes, pois implicaria numa sociedade verdadeiramente democrática, coisa bastante imprópria à organização política liberal que perpassa a sociedade, como uma organização natural (fabricada para ser percebida assim) e, por isso, incontestável. É esse fundamentalismo democrático que justifica a imposição de governos democráticos em todo o mundo, mesmo naqueles países em que a palavra democracia não faz o menor sentido, como o “mundo árabe”. É pois, em nome da segurança, em nível mundial, que a ONU proíbe outros países de desenvolver tecnologias atômicas.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Qual o Clube mais Antigo do Brasil?




Como uma forma de passar o tempo, tenho a mania de me fazer perguntas para as quais não tenho respostas, apenas para me dar o ensejo de pesquisar. Hoje me perguntei qual o time de futebol mais antigo do Brasil ainda em atividade? Pensava então, intuitivamente, ser a Ponte Preta. E qual não foi o meu espanto, quando descobri que o clube de futebol mais antigo do Brasil é o Sport Clube Rio Grande, conhecido pelo carinhoso apelido de “Vovô”. Hoje ainda atua na segunda divisão do futebol gaúcho e foi fundado em 19 de julho de 1900, já a Ponte Preta foi criada alguns dias depois, em 03 de agosto do mesmo ano.


O Flamengo, o Vasco e o Vitória da Bahia foram fundados antes, mas não como clube de futebol. Há indícios de que o São Paulo Athletic Club (nada a ver com São Paulo Futebol Clube), fundado em 13 de maio de 1888, no dia da Abolição, inicialmente como clube de críquete, tenha sido o clube de futebol mais antigo do Brasil, pois em abril de 1895, ocorreu a primeira partida de futebol registrada no país, justamente, entre São Paulo e Gas Co. e contou com o hoje famoso Charles Miller que fez 2 gols para o São Paulo que ganhou por 4 a 2, porém o time de futebol não existe mais, resta apenas o clube.


sábado, 1 de agosto de 2009

Linha de Fuga



dormir para fugir de si mesmo

fechar os olhos para não se vê

esquecer o que não foi dito

chorar para não ter que viver



isso é tudo que se tem

quando se é só e se quer só

não há vida para além do desejo

não há bocas sem beijos



sem vida não há dor

que chegue um dia para sentir

a fome é o medo de quem vive

a tristeza de quem se foi


será o medo da vida o seu contrário de viver

a morte em vida sentir o sangue

cortar as veias como um abraço

da geladeira que se abre pela insônia


a vida não apareceu esse dia

a flor que murchou em minha mão

a alguém fez a sua ausência

que não sentiu, por que não se senti a falta...


(28/06/02)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A Supervalorização do Técnico de Futebol





Hoje recebi uma notícia de que o ex-técnico santista Wagner Mancini teria rejeitado o cargo no Flamengo porque o salário oferecido era ridículo: 80.000,00 reais por mês. O interessante é que de fato para os padrões atuais, o salário é mesmo ridículo, porém, para os padrões do Brasil, é sim, uma excelente remuneração.



Isso dá a medida não só da importância do futebol em nossa cultura, mas a relevância da profissão de técnico no Brasil. Dizia-se que quando estava no Palmeiras, Luxemburgo tinha o maior salário do elenco, mesmo tendo Marcos como o grande ídolo do Palmeiras nos últimos tempos. Seria a carência de mais ídolos (jogadores) atuando no país ou a supervalorização da profissão de técnico?



Creio ser um pouco das duas coisas, mas, principalmente, da supervalorização do técnico, ingenuamente percebido pelos brasileiros, não como mais uma função, entre outras, dentro de um time de futebol, mas como o grande interventor do futebol, com capacidade para mudar os rumos de uma partida, como se os jogadores fossem marionetes, programas de um sistema tático em que não caberiam imprevisibilidades. O que é evidentemente uma grande ingenuidade.


Quando o técnico influencia o decorrer de uma partida, o faz sobre várias circunstâncias, a maioria delas, incontroláveis por ele. Os craques, sim, são os grandes interventores do jogo, pois eles são capazes de criar o inusitado, o imprevisível; o técnico é um mero coadjuvante, quando não é apenas um figurante.


sábado, 25 de julho de 2009

Poesia




Diário de um daltônico


Eu preciso ver o mundo
O que acontece para além da minha janela trêmula e sem foco
Que é uma sobrancelha que se enruga com o vento
Ou o meu olhar que se envergonha com o seu

Preciso sentir o mundo correr pela estrada a fora
Ver o que eu posso fazer
Conseguir o que eu quero
Mas eu não sei o que eu quero
Nem sei se sei querer
O meu desejo não dura muito tempo
É como um orgasmo precoce, um sorriso sem graça.
O que eu quero é só de vez em quando.

O sorriso da serpente deslizou
Até chegar no seu destino
Não quero o amanhã sem graça de todos os dias
Quero ficar onde estou e ao mesmo tempo sinto vontade de correr
Para todos os lados que meu nariz apontar

Não quero obrigações ou imposições
Quero amanhecer quando puder
Não quero viver a mercê da sociedade,
Dos seus costumes estúpidos

O que eu quero é te ter no meio da rua
Para que todo mundo veja inclusive quem você ama
Quero ser como os cães
Que fazem o que querem e quando querem
Não precisam de ritos para dissimular o que mais desejam
São autênticos.
E é isso que eu quero.
Não quero disfarçar o que penso ou esconder o que sinto
Quero poder dizer qual a cor do meu céu...
Pelo menos é isso que eu quero agora
O antes e o depois eu já não sei
Só existe o agora
O ontem é só lembrança e o amanhã é só sonho
Enquanto não se tornar o hoje.


25/07/91

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Poesia




JANELA PARA AS ESTRELAS


Todo mundo deveria ter uma janela para as estrelas.
Às vezes nós dois ficamos tão solitários
Eu não escolhi esse caminho
Eu sempre quis caminhar a beira mar
Sentir as ondas beijar os meus pés

Eu não posso dar-lhe além do que recebo
E o silêncio de seus olhos machuca-me a alma
Seu sorriso é tão doce e tão raro...
E o vento continua a varrer o mundo
Como se nada tivesse acontecido.


1999

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Meninos e Meninas e os conflitos da sexualidade

Ouça a música "Meninos e meninas" no link acima!
Em tempos de passeata gay, de intolerâncias e violências contra as minorias, é sempre bom lembrar e refletir sobre alguns versos de uma música que fez muito sucesso no final dos anos 80 na voz de Renato Russo da Legião Urbana.

Entre várias letras que falavam de sua condição como homem e gay, Renato Russo em “Meninos e Meninas” se destaca por tocar num conflito que praticamente todos jovens passam, digamos, o ritual de passagem entre a puberdade e a fase adulta, qual seja, a construção da sexualidade, da relação com a família, com os outros de sua idade e com os mais velhos.

A canção narra o conflito entre a formação religiosa da personagem da música narrada em 1ª pessoa, que é proveniente de uma família católica e os sentimentos novos e confusos: o gostar diferente em relação a meninos e meninas e como ser aceito pela família, pela sociedade e, espiritualmente, pela crença religiosa de seus pais, nesse último conflito, como superar o preconceito religioso que insiste em rotular o homossexualismo, ainda hoje (e não se restringe apenas ao catolicismo), como uma anormalidade, uma promiscuidade, enfim, como um pecado.

Como é próprio da modernidade sexista descrita por Foucault em sua trilogia: “História da Sexualidade” em que contestou a tese da repressão sexual de autores como Marcuse, revelando que, para além da repressão, o poder age como incentivador do discurso sexual, modelando, acomodando, fiscalizando, punindo sim, mas, sobretudo, formando regras de conduta baseadas em um saber sexual, com seus dispositivos de poder e verdade.

É sobre essa ótica, a do centralismo sexual, que os adolescentes do Ocidente começam a tatear e a fazer a leitura de mundo, a julgar os colegas e a si mesmo, a condenar certas condutas e a se espelharem em outras, para se formar enquanto indivíduo. É um aprendizado tortuoso, pois, por um lado, são cobrados por todos, acerca de sua conduta ética, julgados, em grande parte, pelo comportamento sexual que adotam e, por outro, se vêem sozinhos, desassistidos e, concomitantemente, direcionados por um discurso de saber sexual que diz a hora, o local e para quem devem se expressar, não certamente, para pessoas da mesma faixa etária.

Além de todo o ensejo para refletirmos, proporcionado pela letra de Renato Russo, há também as ambigüidades, um colega meu diria: a canção é polissêmica, pois a cada nova audição, permite que você a perceba de outra forma, com ênfase em outros aspectos. Nesse sentido, “Meninos e Meninas” transcende os clichês do pop e não pode ser simplesmente descartada, muito pelo contrário, é uma legítima poesia que expressa os anos 80, mas também o ultrapassa em sua temática ainda atual (talvez, os anos 80 também continuem atuais).

Abaixo a intolerância!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Disque M para Matar: uma trama perfeita de um crime quase perfeito

“Disque M para Matar” é a história de um crime quase perfeito, mas é, por outro lado também, uma filmagem sincronizada e dramaticamente bem construída que se amarra até nos mínimos detalhes. Entre outras cenas em que se pode comprovar isso, está aquela em que o matador contratado/chantageado deve deixar a chave para que o marido entre depois e encontre sua mulher morta.


Toda a trama depende desse detalhe que é registrado em poucos segundos na seqüência em que o aspirante a assassino pega a chave escondida sob o tapete da escada, gira a chave, mas demora alguns instantes para abrir a porta, esses instantes, como a câmera está dentro da casa esperando a porta se abrir, é a comprovação técnica de que a chave é colocada de volta no lugar, antes que o homem, encarregado de assassinar Margot (Grace Kelly) entrasse na casa, conforme havia combinado com Tony (Ray Milland) seu marido, para que este ficasse com a herança.


Quando Tony, então, com seu álibi perfeito no clube, o ex-amante de sua mulher, Mark, descobre, preocupado e apreensivo, que seu plano não havia dado certo, começa a pensar no que faria para evitar que a polícia não desconfiasse que a tentativa de assassinato a sua pessoa tivesse motivações passionais ou econômicas, pois era o seu ex-colega de faculdade que estava morto no chão de sua sala.


Nesse momento, Tony acha que o Swan, o assassino contratado, como não conseguiu matar sua mulher, estava ainda de posse da chave, por isso, é que ele diz a ela para não chamar a polícia, para que tenha tempo de pegar a chave e assim tirar qualquer possibilidade de ser incriminado.

Nesse sentido, a chave poderia está representada com muita justiça no título do filme, pois, tal qual o “M” que representa o código do bairro da casa de Tony onde ele liga para que o assassino surpreenda sua mulher, quando esta fosse atender ao telefone, e por isso representa o acionamento da cena principal; é também, em torno da chave, que gira toda a trama dirigida com toda a maestria por Hitchcock.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Terror “Cult” do Iluminado Stanley Kubrick



O “Iluminado” de Stanley Kubrick é um daqueles filmes em que somos, a cada cena, manipulados a sentir temor, suspense, surpresa e dúvida, com tal volúpia, que é bom estarmos sempre com o controle na mão para que possamos parar o filme e pensarmos a respeito.


Se no clássico “Dom Casmurro” de Machado de Assis, a dúvida é sobre se Capitu traiu ou não seu marido, no filme de Kubrick, a questão reside em saber se os acontecimentos são sobrenaturais ou psicológicos, da imaginação de Jack, o pai escritor, e de seu filho Danny.


Na cena que Jack escapa misteriosamente da câmara fria onde sua mulher o prendeu preventivamente depois de ser atacada por ele, parece-nos que finalmente o diretor optou pela interpretação sobrenatural, mas, em uma das últimas cenas do filme, a câmera começa a se mover lentamente para o painel de fotos de hóspedes do hotel e numa das fotos podemos ver Jack ao lado do garçom supostamente imaginado por ele.


Jack Torrance então estava no hotel quando ocorreram os assassinatos das filhas gêmeas e da mulher do funcionário?


Será que a cena em que Jack imagina estar abraçado a uma mulher nua e é flagrado pelas gêmeas não seria uma lembrança, um trauma não superado e, sendo assim, o crime teria sido cometido por Jack para que as filhas não tivessem a chance de contar ao pai? Talvez...


Assista ao filme e tire suas próprias conclusões!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Brancaleone: O brilhante dom Quixote de Monicelli



Há algum tempo, um amigo me indicara um filme com a seguinte recomendação: “assista Brancaleone, é uma comédia sobre a Idade Média!”. Lembro que ao ouvir tal frase me dirigi imediatamente para a locadora mais próxima. Fiquei encantado com o filme e não temo em dizer que é, não só, a melhor comédia, como o melhor filme sobre a Idade Média que assisti.


Lá você encontra todos os principais elementos do fim do feudalismo. O filme conta a história de um cavaleiro medieval pobre, Brancaleone, que procura ganhar um torneio e casar-se com a princesa, até aí um clichê legítimo. Mas, a maneira como é narrada, pelo brilhante Monicelli, e as várias idas e vindas da trama é o que faz a diferença.


A película começa com uma invasão bárbara a um feudo que é salvo por um cavaleiro solitário, que ferido, é atacado por alguns sobreviventes que ele salvou. Assim, quando se encontrava à beira da morte, roubam-lhe a armadura, a espada e um misterioso pergaminho. Na cena seguinte os assaltantes levam os despojos do crime para vendê-los a um mercador judeu, que quando lê o manuscrito, percebe a encrenca em que ambos se meteram, tratava-se da concessão de um feudo ao cavaleiro portador do manuscrito que, naquele momento, se encontrava morto.

Tais personagens então partem em busca de um cavaleiro que possa tomar o feudo de Alencastro, é aí que encontrarão Brancaleone que deu vexame no torneio devido a não conseguir dominar seu cavalo. Monicelli ainda vai acrescentar outros elementos no filme: um cavaleiro de Bizâncio que irá duelar com Brancaleone pelo direito de passagem, uma das melhores cenas do filme; um monge que arrebanha voluntários para lutar na terra santa; um castelo abandonado cheio de vítimas da Peste Negra; as invasões árabes às vilas litorâneas do Mediterrâneo e muito mais.


Tudo isso regido por Brancaleone que personifica dom Quixote de Cervantes, o honrado e atrapalhado cavaleiro medieval que, na literatura, marca a transição entre Idade Média e modernidade, como também é uma das intenções de Monicelli. A continuação da história, ou melhor, do filme, ninguém pode perder, principalmente, quem gosta de história e de dar umas boas gargalhadas em alto nível.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Rastros de Ódio: o bandido-e-mocinho com requinte



Vi recentemente o filme “Rastros de Ódio” (The Searchers) de John Ford e vou aqui escrever sobre alguns pontos que considero positivo e outros que nem tanto. Primeiramente, é um filme que mostra uns Estados Unidos pouco unidos, uma terra de ninguém ou de vários donos que tentava se formar como Nação. Era o período imediatamente posterior a guerra de secessão vencida pelos Yankees, o que permite ao diretor uma história repleta de ressentimentos, como a mal digerida derrota dos confederados do sul tão cruamente retratada pelo seco John Wayne, que ainda por cima, revela o típico racismo sulista desta vez não pelos negros, habituais alvos, mas contra os índios.


É quase insuportável aturar a conduta politicamente incorreta da personagem principal e o estereótipo criado pelo diretor de que o índio é ignorante, mal e incivilizado, enquanto o branco, embora, também seja mal e ignorante, tenha, contudo, sempre um motivo para agir assim: a terra hostil que valentemente, como pioneiro e empreendedor (características forjadas da nacionalidade estadunidense) desbrava e vive, outro motivo é vingança, pois o mocinho ele não ataca, vinga, ele não agride, apenas revida o mal sofrido. Nessa perspectiva é inegável a herança grifitthiana de John Ford.


O filme, enfim, vale a pena pela habilidade narrativa do diretor e a grande fotografia que mostra com rigor a beleza selvagem do Texas e do Novo México, quando ainda (período da história do filme) não tinha sido tomado dos mexicanos.

domingo, 31 de maio de 2009

1492 – A Conquista do Paraíso: um épico de Ridley Scott



A Conquista do Paraíso de Ridley Scott é um dos filmes que merece ser visto por vários motivos, para aqueles que gostam de conhecer a História da América é, então, imprescindível. A começar pelo elenco estrelado por Gerard Depardieu, em incrível desempenho no papel de Colombo e Sigourney Weaver, esta como a então rainha Isabel da recém unificada Espanha.


Entre outros atrativos, há fatos históricos fundamentais para começarmos compreender as raízes culturais dos povos americanos: o primeiro já citado é o da Unificação da Espanha em 1492 que acontece justamente a partir de outro fato importante; o da expulsão dos mouros que por séculos viviam no sul da Europa, sobre este fato, a cena da substituição da “meia lua”, símbolo muçulmano, pela cruz, é uma síntese emblemática; há também a luta da ciência, em parte representado pela personagem de Colombo, contra a religião, que se opõe a viagem para não perder sua autoridade, já revelando um início de decadência que irá se agravar com a Reforma.


A Igreja Católica tenta, assim, com base nos livros sagrados, rebaixar as idéias que dão sustentação a viagem de Colombo, não propriamente por discordar delas, pois já era notório entre os intelectuais, em grande parte, formados pela Igreja, que a terra poderia ser de fato redonda, mas o que estava em jogo, era o domínio do saber, que deixaria de estar sob o monopólio da Igreja e passaria também para as mãos de exploradores e cientistas que deteriam a autoridade sobre um assunto que era, até então, exclusividade do poder Religioso.


Nessa perspectiva, o filme ressalta em uma cena de tirar o fôlego literalmente, o poder da Igreja Católica na Espanha e mostra a força política da Inquisição fazendo mais uma vítima, isso claramente evidencia os riscos a que Colombo estava submetido. Por outro lado e a despeito de todas as forças contrárias encabeçada pela Igreja Católica e por parte da Nobreza, os mercadores, personagens importantes historicamente, entram em cena para “patrocinar” sob os auspícios e as garantias do Estado espanhol, representado no filme pela Rainha Isabel, a “grande loucura” de Colombo, que não era lá, a bem da verdade, tão insana assim. Pois numa cena entre o mercador e o líder espiritual, fica clara a mutua dependência entre Estado, iniciativa privada e a Igreja e que, Estado e mercadores não tinham nada a perder, caso a viagem de Colombo não desse certo; por outro lado, se obtivesse sucesso, teria tudo a ganhar, inclusive, como bem sabemos hoje, a hegemonia econômica no século XVI conferindo a Espanha o status de Estado mais rico e próspero da Europa e porque não do mundo, graças aos lucros auferidos com a Conquista (e não descoberta) da América.


A viagem em busca do paraíso é uma epopéia a parte no filme, desde a habilidade de Colombo com os tripulantes evitando um motim até o aviso de terra à vista, passando pelos usos dos instrumentos marítimos, as doenças (escorbuto), o racionamento de comida e culminando ao encontro com os nativos e os rituais de posse feitos pela nobreza espanhola.


A partir daí, cada cena é desenvolvida a partir do eurocentrismo das personagens, a sua recusa deliberada em aprender com os nativos, o seu total desrespeito com a cultura ameríndia, tudo isso, evidentemente, culmina com o fracasso pessoal (em vida) de Colombo e com inviabilidade inicial da colonização espanhola que só vai acontecer com a chegada de Cortez já em meados do século XVI.


Bem para o final do filme, descobrimos que o filho caçula de Colombo, aquele que ele mostra, com uma laranja, a razão de o barco desaparecer no horizonte, outra cena emblemática, é o narrador do filme. Ele expõe as injustiças que seu pai sofreu no final da vida, a glória que Américo Vespúcio recebeu no lugar de seu pai, pois por mérito a América deveria se chamar Colômbia. Por fim, a trilha sonora do filme feita por Vangelis só vem estampar com a música, a marca dos grandes épicos.

sábado, 30 de maio de 2009

Pulp Fiction: inconseqüências e acasos – Tiros na hipocrisia



Eu me recuso a ver nos filmes de Tarantino apenas um passatempo violento e banal. Para mim suas cenas de violência são muito mais que isso, assim como seus filmes são muito mais que violência. Em Pulp Fiction, meu preferido, matar é uma profissão, como enganar é uma tática economicamente rentável, seja na compra de resultados de luta de boxe, no repasse dos lucros das drogas, etc.


Pulp Fiction é um desvelamento das hipocrisias da vida; talvez a visão cética que mostra com crueza a impossibilidade de relacionamentos sinceros e duradouros. É o desmascaramentos dos caracteres sociais e individuais. Não é nada muito sério, todos os argumentos são diluídos nos acasos predominantes da vida.


É como num conto policial, as motivações se perdem na trama, as ambições tornam-se sem relevância, nada vale muito à pena. Resolver o caso ou não, importa pouco no final. Entre bons e maus inexistem diferenças fundamentais e quando há distinções, é sobre atos dentro dos próprios sujeitos, são as escolhas e esquecimentos cotidianos, sem muito ou nenhuma explicação, que conduzem a trama e a vida, no final das contas. É como uma revista (pulp fiction) de contos policiais lida em um vaso sanitário enquanto defeca.


Quentin Tarantino faz de uma simples “cagada” uma pausa para leitura; de uma simples ida ao banheiro, uma “viagem”, não apenas um retoque na maquiagem, mas uma pausa necessária para refletir sobre seus atos, de resto, completamente inconseqüentes.



Trainspotting: uma imagem-crítica à vida frívola da contemporaneidade



Trainspotting é um filme sobre jovens e drogas que foge do clichê: vício/recuperação. O filme de Danny Boyle também tem outras coisas interessantes, sua montagem é alucinante, não-linear e suas cenas surreais são inesquecíveis.


O que dizer da cena de Renton mergulhando no vaso sanitário em busca de seu supositório de ópio ou de quando o próprio, após uma overdose, cai em uma “cova”, uma espécie de estágio entre a vida e a morte, e começa a ver as coisas e as pessoas ao seu redor através de um enquadramento bizarro.


É também uma crítica à vida vazia e consumista dos anos 80/90, o uso das drogas, nesse sentido, é uma opção, uma linha de fuga que recusa a vida frívola e medíocre. Porém, as personagens não são submetidas ou subjugadas pelo uso das drogas, os sujeitos não são levados a elas por influência negativa ou por forças externas (marginalidade, pobreza, etc), pelo contrário, o uso das drogas é uma escolha entre outras, é um consumo entre tantos outros supérfluos na sociedade, em vez de comprar uma máquina de lavar, um micro system ou uma televisão, as personagens preferem comprar um “pico” e fugir, por alguns momentos, da realidade sufocante que os cerca. No filme, as personagens tentam outras saídas, neste ponto, a droga é apenas outro cenário/personagem, como o é o futebol, o passeio no campo, o vídeo pornográfico furtado do amigo, a boate, as brigas no pub, etc.


As drogas também fazem parte da sociedade de consumo e não funcionará por muito tempo como linha de fuga. Por outro lado, a droga aparentemente cultuada no início do filme é também dissecada e questionada enquanto conduta de vida assumida pelas pessoas que a consomem, como as amizades provocadas e condicionadas pelo uso das drogas são rejeitadas e descartadas (exceto a de Spud, talvez por pena) pela personagem principal de Renton.


No fundo, o filme é uma crítica ao consumismo de nossos tempos; no final, até as drogas tornam-se supérfluas, assim como, as sociabilidades e as amizades que elas criam.

sábado, 23 de maio de 2009

Os Escolhidos

22/05/2009 14:54:08


Sérgio Andrade/Carlos Jereissati
Corpo estranho na privatização da Telebrás, em 1998, a dupla comanda agora a maior empresa do setor À época da privatização do Sistema Telebrás, em 1998, dizia-se que Sérgio Andrade e Carlos Jereissati, os dois empresários que assumiram a maior fatia da telefonia brasileira, ao menos geograficamente falando, não permaneceriam muito tempo no negócio. Tanto o primeiro, dono da construtora Andrade Gutierrez, quanto o segundo, do Grupo La Fonte, tinham pouca ou nenhuma experiência na atividade. Emergiram vitoriosos sob críticas por terem levantado com o BNDES a maior parte dos recursos necessários a honrar o arremate.
Dez anos depois, a dupla de empresários não só permanecia à frente da Telemar, já com o nome mudado para Oi, como conseguiu tornar inequívoco o reinado na telefonia nacional. Com a aquisição da Brasil Telecom, tornaram-se os acionistas majoritários da maior empresa de telecomunicações do País, dona de 65% da telefonia fixa, 42% do mercado de banda larga e 17% dos assinantes da telefonia celular.
Eike Batista
Conduzido ao mundo da mineração pelo pai, Eliezer Batista, Eike virou o homem mais rico do Brasil O empresário Eike Batista autointitulava-se, desde o ano passado, o homem mais rico do Brasil. O reconhecimento veio com a edição 2009 do ranking de bilionários da revista Forbes, que o colocou em primeiro lugar no País e 61º na lista mundial, com uma fortuna de 7,5 bilhões de dólares.
Filho do criador da Companhia Vale do Rio Doce e ex-ministro de Minas e Energia Eliezer Batista, Eike fez fortuna na área de mineração, ao comprar e vender jazidas de ouro, minério de ferro e, mais recentemente, reservas petrolíferas. O Grupo EBX, holding controlada por Batista, reúne empresas de mineração, exploração de petróleo, logística e energia. Após vender, por 5,5 bilhões de dólares, áreas de minério de ferro para a Anglo American, anunciou que negocia a venda do braço de mineração MMX.
Benjamin Steinbruch
Ao liderar os consórcios que fisgaram a Vale e a CSN, ampliou os negócios da família e virou um gigante Filho do fundador da Vicunha, maior gru-po têxtil do Brasil, Benjamin Steinbruch foi incumbido de buscar novos negócios para a família, na década de 1990. Na fase das privatizações, conseguiu liderar os consórcios que arremataram a CSN e a Companhia Vale do Rio Doce.
Em 2001, o empresário decidiu abrir mão de sua participação na mineradora e, após um complexo processo de descruzamento acionário, tornou-se o único controlador da siderúrgica, na qual concentrou suas apostas. Outro lance ousado do empresário foi levado a cabo em 2005, quando conseguiu adquirir a parte da família Rabinovich no Grupo Vicunha, que passou a ser controlado apenas pelos Steinbruch.
A última empreitada consiste em valorizar os ativos de mineração da CSN. No ano passado, Steinbruch conseguiu vender parte da Namisa a um grupo de siderúrgicas asiáticas por 3,4 bilhões de dólares. A operação reforçou o caixa da siderúrgica, que fechou 2008 com lucro recorde de 5,8 bilhões de reais e preparada para enfrentar os efeitos da crise financeira internacional.
Daniel Dantas
O homem que espiona, engana os sócios e controla partidos costuma ser tratado apenas como “polêmico” Apaniguados, jagunços ou os que querem parecer isentos costumam atribuir a uma suposta inteligência superior a ca-pacidade de Daniel Dantas de acumu-lar dinheiro. Só com a fusão entre a Brasil Telecom e a Oi, patrocinada pelo governo Lula, embolsou cerca de 2 bilhões de reais. O termo certo talvez seja esperteza.
O baiano de olhos azuis percebeu cedo que, no Brasil, uma maneira rápida de enriquecer é operar à sombra do Estado.Sua capacidade de infiltração no mundo político só é comparável à de fazer inimigos. Não existe um único negócio (repita-se: nenhum negócio) no qual não tenha tentado (e geralmente conseguido) passar a perna nos sócios. Um atento observador de Dantas assim o resume: “Juntar dinheiro é o menos importante. Ele gosta mesmo é do jogo de poder”. Sua ascensão deve-se, em princípio, a Antonio Carlos Magalhães.
Mas foi o governo Fernando Henrique Cardoso o responsável por seu regime de engorda, ao elegê-lo um dos vencedores do processo de privatização. Em 2002, o PT venceu as eleições e o banqueiro achou uma forma de se aproximar. Foi muito bem recebido pela legenda trabalhista. DD detesta perder. Quando não coopta, chantageia. Um dos métodos preferidos é a espionagem, o grampo ilegal, daí o apelido de orelhudo, gentilmente cunhado por esta revista (homenagem ao prazer de ouvir conversas alheias).
É personagem relevante na história recente da disputa pelo controle do Estado brasileiro, apesar de grande parte da mídia tratá-lo como santo ou mártir. Não há um governo de peso, um par-tido político de expressão que não tenha o que temer quando o assunto é Dantas. É uma das raras pessoas físicas a possuir representantes próprios no Congresso. A bancada do orelhudo é ecumê-nica: nela cabem representantes de quase todas as agremiações políticas

Editorial Carta Capital (em virtude de seu aniversário de quinze anos) Por Mino Carta

Como remar contra a corrente
(22/05/2009 16:18:28)
Mino Carta

Ponto e linha. Claro, objetivo. Pingos nos is. Preto no branco. A nova sobriedade. Back to basics. Direto, confiável. Mais qualidade, menos “flash”. Humor sutil e sofisticado.
O texto é de autoria de Mariana Ochs ao estabelecer os fundamentos do projeto gráfico que CartaCapital põe em prática a partir desta edição. Mariana, diretora de arte respeitada até na Madison Avenue, é velha conhecida dos nossos leitores. Cuidou da fisionomia da revista por três vezes e agora realizamos a sua quarta e preciosa intervenção. Mariana é boa intérprete do princípio dos gregos antigos pelo qual ética e estética são sinônimos. Os esclarecimentos acimaprovam a sintonia com o ideal helênico.
Esta edição é especial e atípica, por ser comemorativa de 15 anos de vida de CartaCapital a começar pela concepção. A qual se deu nestes mesmos dias de 1994, quando quatro jornalistas reuniram-se para inventar seu próprio emprego. Alhures estava difícil. Bob Fernandes, Nelson Letaif, Wagner Carelli e o acima assinado. Quanto ao novo projeto de Mariana, adapta-se à especificidade da edição, mas se mostrará mais claramente, em todos os seus alcances, a partir do próximo número. De linha, digamos assim.
Volto ao quarteto e à enésima aventura. Meu sobrinho Andrea, saudosa figura que se foi cedo demais, comandava a Editora Carta Editorial, fundada pelo pai, Luis Carta, dezoito anos antes. Ausente meu irmão, chamado pela Condé Nast a fundar a Vogue España em Madri, Andrea pilotava a editora e pretendia lançar uma nova publicação, de Economia e Negócios. Procurou-me com o afeto de sempre, respondi: “Sem falsa modéstia, isso eu não sei fazer”.
Luis ligou-me da Espanha, torcia para que eu, desempregado, topasse a parada. Expliquei: “Saberia fazer, creio eu, uma publicação sobre o poder, onde quer que se manifeste, na política, na economia, nos negócios, na cultura, em quaisquer gramados”. A ideia foi aceita. Chamei companheiros de outras jornadas e quinze anos atrás traçamos o plano de uma revista necessariamente mensal por causa dos recursos modestos. Houve hesitações apenas em relação ao seu nome. Alguém sugeriu Carta, eu recusei. Receava que soasse como exigência minha. Andrea queria Capital. Ficou como ficou.
Meados de agosto de 1994, ela foi às bancas. Em março de 1996 tornou-se quinzenal, solidamente amparada no primeiro projeto gráfico de Mariana Ochs. O plano era mais ambicioso quanto à periodicidade. A realização levou, porém, mais de cinco anos. A semanal nasceu na penúltima semana de agosto de 2001, mais uma vez programada graficamente por Mariana. Inicia-se aqui a separação de Carta Editorial e sua substituição pela Editora Confiança. Em seguida à eleição do ex-metalúrgico, em 2002, chovem as calúnias contra uma publicação que ousa remar contra a corrente. Revista chapa-branca, panfleto partidário.
Preto no branco, recomenda Mariana. Temos é uma mídia de pensamento único, leves nuanças não bastam para encobrir a senha geral. CartaCapital empenha-se em exercer o jornalismo em que acredita, baseado na fidelidade canina à verdade factual, na aplicação diuturna do espírito crítico, na fiscalização desabrida do poder. Não se expõe a sardinha à brasa de ninguém com o intuito de favorecer este ou aquele. Respeite-se o império dos fatos, nunca poluídos pela opinião. CartaCapital jamais esconde o fato, não nega, contudo, a sua opinião, e aferra-se a ela.
É quanto basta para inquietar. Às vezes me pego a imaginar o que se daria se fosse brasileira a The Economist, a semanal de maior prestígio no mundo. Ela distribui no Reino Unido pouco mais de 200 mil exemplares, tadinha. Comparem com os números de Veja. Sempre acontece que o planeta se curve diante do Brasil. Pois é, o que não se aquietou nestes quinze anos é a arrogância da minoria, seu exibicionismo provinciano contraposto ao medo pânico de perder os privilégios. Ou, simplesmente, de vê-los ameaçados. Os nossos 15 anos bastaram, no entanto, para convencer The Economist a fechar conosco uma magnífica parceria, que nos habilita a publicar seus textos em perfeita concomitância, como ocorreu com o número de fim de ano, realizado a quatro mãos.
Estética e ética. Opinião exposta sem meios-termos. Ainda exemplos. Na edição nº 30 de agosto de 1996 CartaCapital cavava sua trincheira contra o neoliberalismo em pleno ataque. Estava certa, ficou provado doze anos depois. De Bush, a semanal desde a penúltima semana de agosto traçou o perfil implacável, necessário, porém, no nosso entendimento, logo após a implosão das Torres Gêmeas, setembro de 2001.
Em 2002, antes do pleito presidencial, tomou partido a favor da candidatura Lula, por tê-la como a melhor. Prática comum do jornalismo dos países mais avançados, apontada por aqui, pela mídia da falsa isenção, como deslize moral imperdoável. Incrível, não nos arrependemos. E em 2006, às vésperas do segundo turno da reeleição, denunciamos as mazelas midiáticas urdidas para deter a avançada lulista, graças a uma reportagem de Raimundo Pereira, que certamente contribuiu para despertar algumas consciências.
Nesta edição evocamos nosso tempo de vida. Elegemos personagens e situação representativas do período para trafegar por este trecho de tempo e contá-lo aos nossos leitores. Não pretendemos a abrangência absoluta, a cobertura total. Acreditamos, de todo modo, ter iluminado diversos instantes deste passado recente. Pelo caminho, não descuramos de recorrer ao humor, como Mariana Ochs propõe. A vida, de resto, consagra todos os dias, hora a hora, a simbiose implacável entre a tragédia e a comédia, sem olvidar a farsa.
A ironia é arma afiada contra quem a desconhece. Ainda assim, Raymundo Faoro, mestre de todos nós, cuidava de me precaver: não exagere por esta senda, a maioria pensa que você fala sério. Pois é, às vezes a gente exagera.

domingo, 17 de maio de 2009

Crônicas da Educação III


Orgulho e Preconceito

Ao chegar à sala da vice-direção, a funcionária o aborda:

- Venâncio?

- Sim?

- Esta Sra. deseja falar com você?

- Olá bom dia, em que posso ser útil?

- Bom dia! O Meu filho estuda aqui e ultimamente ele vem sofrendo com preconceito.

- Nossa!, isso é grave, quem é seu filho e a partir de quando ele vem sendo hostilizado preconceituosamente?

- Já tem bastante tempo, não é só aqui não, mas como aqui é uma escola e eu espero que o Sr não compartilhe disso...

- Com certeza, não mesmo... continue...

- Pois é, eu vim aqui para que o Sr. tome providências a respeito.

- Que tipo de preconceito? Racial?

- Não! Embora ele seja negro o Francisnetto nunca teve esse problema, graças a Deus.

- Então qual é o tipo de preconceito e quem são os autores?

- Meu filho vem sendo chamado e tratado como gay! E eu te digo...

- Venâncio!

- Sr Venâncio eu te digo: meu filho não é bicha, nós somos religiosos e em nossa família ninguém é anormal.

- Senhora, acalme-se, Matilde, busque um copo com água para esta senhora, por favor!

- Tome, beba e agora se acalme, por favor. Vamos tentar resolver esse problema. Isso, acalme-se, muito bem.

- A Sra. acha que ser gay é um problema?

- É claro que é, isso é coisa do capeta!

- Olha, vou dar minha opinião sobre o caso, é apenas uma opinião particular. Se seu filho vem sendo hostilizado e constrangido moralmente, dependendo do contexto isso é muito grave e cabe até processo judicial quando bem fundamentado. E sob esse aspecto a Sra. pode ter certeza que a Direção da Escola vai apoiá-la em todos os sentidos.

- No entanto, eu discordo da Sra. quando diz que ser homossexual é um defeito, uma anormalidade. Todos aqui na Escola e na sociedade como um todo devem ser tratados com respeito e dignidade, independente se for preto ou branco, homem ou gay, corintiano ou palmeirense.

- Não sei se seu filho é gay, e isso só interessa a ele e a quem ele quiser contar. A orientação sexual de qualquer indivíduo é singular, embora seja um processo social. Veja, cada um, em respeito às leis, tem o direito de ser magro, gordo, bonito, feio, homem, gay e por aí vai.

- Agora, eu vou te fazer uma pergunta pessoal, e a Sra. responde se quiser. A Sra. acha que seu filho é gay? Se acha, isso te incomoda?

Aos prantos, a mãe de Francisnetto responde:

- Não sei... snif, aaacho que sim, snif, snif ó meu Deus porque isso comigo?, o que fiz de errado? porque essa desgraça se abateu sobre mim?

- Acalme-se minha senhora, por favor, isso não é uma maldição, isso cabe a ele, só a ele, é singular, não sofra com isso. Até onde eu sei ele é um menino educado, carinhoso, honesto; estas sim são qualidades imprescindíveis ao ser humano.

- Mas, o que os outros vão falar, o Sr. fala assim porque não é contigo, né?

- Não, minha senhora, é do fundo do coração, se minha filha se tornar um homossexual eu não vou lamentar, o importante é ela fazer o bem para si e para outros. Acalme-se, por favor, não chore mais.

- Os meus irmãos de fé, eu percebo, eles olham torto para Francisnetto...

- Acalme-se, beba mais água, sim?, por favor, isso, isso se acalme.

E inopinadamente ela se levanta:

- Olha aqui, já vi que o Sr. não vai resolver o meu problema, eu perdi meu tempo vindo aqui, esse assunto eu vou resolver lá em casa, essa sem-vergonhice do Francisnetto, ele me paga, a hora que ele chegar em casa vai ver só...

- Não faça isso, converse com ele, mas com calma, seja compreensiva, não faça nada impen...

E antes que Venâncio terminasse sua frase, a porta da sala bate fazendo um estrondo.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Crônicas da Educação II

O Fim... de Turno

Estava eu, singelo professor, saindo da sala de aula no 4º horário a caminho de outra para completar meu turno, enquanto pensava nos problemas cotidianos: alunos com déficit de atenção, problemas familiares, carência econômica e emocional, meu salário que não dava para pagar as contas, a revista que eu queria assinar, mas teria que adiar novamente, o pagamento do aluguel atrasado, etc. Quando de repente, ao passar em frente da vice-direção, uma conversa me alcança:

- Você é o vice-diretor?

- Sim, sou eu, bom dia!

- Só se for para você, porque eu deixei um monte de serviço em casa e meus filhos pequenos sozinhos para vir aqui.

- Qual o problema?

- Eu é que sei... Simplesmente me chamaram, meu filho disse que eu teria que comparecer na escola.

- Certo, quem a chamou?

- Não sei.

- A Sra. recebeu um bilhete, um comunicado?

- Sim, mas deixei em casa.

- Entendo...

- A Sra. leu o bilhete?

- Claro que eu li!

- Quem a convocou? Qual a pedagoga?

- Não sei, como posso saber?

- Estava no bilhete que a Sra. leu!

- Não me lembro, e agora?

- Tudo bem, temos três pedagogas, cada uma com 7 turmas, diga-me apenas o ano (série) em que seu filho estuda?

- ah... Não sei... Acho que é 7ª ou 8ª...

- Tudo bem, me fale a data de nascimento dele que eu o procuro no sistema.

- Data de nascimento, ah... Deve ser 3 ou 5 de maio; não, não, acho que é abril...

Como a turma do 5º horário já me esperava à porta, não pude ouvir o final do diálogo entre o vice-diretor e a mãe do aluno... Foi melhor assim!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Crônicas da Educação I

Um Ônibus Quebrado

Estava eu no ônibus pensando em nada, quando uma conversa me invadiu:

- Nossa, mas esses alunos de hoje são tão burros, não gostam de ler, não sabem e não querem escrever e quando tiram notas baixas, aí vem os pais reclamarem e a culpa recai sobre nós, a culpa é do professor.

- Então, a gente tem que ensinar até a sentar, só querem saber de internet, site de relacionamento, televisão e videogame. Ainda bem que nem de computador eu gosto.

Quando de repente o ônibus pára, faz-se silêncio, o motorista desce, olha o motor e desbriado volta e diz ao cobrador:

- Zé!?

- Fala?

- Liga para empresa, chama o reboque esse aqui já era!

É quando um dos interlocutores volta a falar:

- Era só o que faltava, vou chegar atrasado na outra escola e o diretor lá não quer nem saber, manda falta!

- Pois é, esse é o Brasil, e depois vem político dizer que quer melhorar a educação, os professores nem trabalhando três turnos têm dinheiro para comprar carro.

- Então... Ei veja!

Fala para o outro, mostrando a placa com o nome da rua onde o ônibus quebrou.

- O quê?

- Olha ali na placa, brasileiro não tem nem criatividade para colocar nome nas ruas, vê se aquilo é nome: Gustavi Flauberte.

- E eu não sei, são um bando de ignorante, também olha só quem é presidente.

- Mas, mudando de assunto, se viu ontem no Big Brother, quem foi para o paredão?

Nesse momento, meu olhar capta uma cena inusitada, logo a frente um jovem alheio àquela conversa lê “1984” de George Orwell.

Que trágica e desconfortável coincidência, para um professor como eu!

O Eu sem o Outro: O paradoxo de nossa sociedade



Em nossa sociedade atual temos medo de viver em autonomia. A liberdade não é mais desejada, e sim sentida como perigosa. A participação política é um fardo, uma ocupação cansativa que onera o já oneroso cotidiano do trabalho. As pessoas se fecham dentro de si mesmas, se recolhem à segurança de suas vidas privadas e privativas, ao recanto da intimidade. O outro se tornou um incômodo, um excesso que não se pode mais perder tempo com ele.

Pensar no outro é perder tempo com a própria vida, com seus próprios problemas pessoais. O altruísmo é um luxo, nos contentamos apenas em lamentar as mortes, as desgraças e infortúnios alheios que aparece aos montes na televisão e nos meios populares de imprensa. Isso é um sintoma do pouco valor que damos aos fatos alheios a nossa vidinha, pois se nos afetassem realmente, jamais conseguiríamos dormir em paz depois de assistir ao telejornal.

Ao contrário, trata-se de um anestésico que ao mesmo tempo em que nos dá a falsa impressão, aos outros e a nós mesmos, de que nos importamos com o além de mim e de que os outros se importariam comigo, também nos passa a idéia de que sentimos muito, mas não podemos fazer nada, pois nossas obrigações individuais nos tiram todo o tempo que teríamos para pensar e ajudar o outro efetivamente.

Existe em nossa contemporaneidade uma cisão entre o eu e outro, componentes do indivíduo na modernidade clássica. Vivemos o indivíduo-eu e é óbvio que isso nos impossibilita de vivermos em sociedade e ao mesmo tempo que tentamos recusá-la, fugir dessa sociedade que negamos, da necessidade do outro, da complementação do eu, refugiando em si mesmo, reivindicamos internamente, inconscientemente a alteridade do outro aquela mesma que nós mesmos negamos. Transferimos a nossa responsabilidade para outro, para o governo, para o patrão, etc. É, em suma, um beco sem saída.

Não queremos romper com a nossa rotina torturante e talvez nem podemos, pois essa mesma rotina aprisiona a imaginação para além dela, de nós mesmos. Como no mito de Ulisses que tentava libertar seus companheiros do feitiço que os transformaram em porcos e quando os mesmos ficaram sabendo que ele tinha o antídoto, fugiram todos se recusando a serem libertos do estado animal em que estavam.
Atualmente, nos recusamos a sair da caverna, pois a luz nos dá medo, nos assusta. As trevas, ao contrário do que os filmes de terror propagam, nos dá segurança e calma. Sem a luz para nos mostrar o que nos assusta não podemos nos assustar. É como na casa do terror de qualquer parque de diversão, sem a luz não podemos ver as caveiras, os vampiros é só com a luz que podemos gritar de medo. Se não podemos enxergar, logo não podemos decidir, nem opinar e nem andarmos por conta própria. A desresponsabilização é um porto seguro que embora não nos traga aventuras também não nos traz riscos. Preferimos nos submeter aos erros cotidianos de vidas sem sentido a termos a responsabilidade de impormos a nós o nosso próprio sentido.

O aluno com medo de aprender se esconde em sua ignorância. É como se a vergonha de cair da bicicleta fosse tão terrível a ponto de preferir nem tentar aprender a andar de bicicleta. Por isso, o videogame é o brinquedo da nossa época, porque só socializamos o jogo quando já o dominamos, não há a vergonha dos erros, pois não se compartilha o jogo antes de aprendê-lo na solidão. A interação, se é que podemos chamar dessa forma, a relação entre menino e a máquina é passiva, sem comentários, sem críticas alheias. Os jovens de hoje não estão preparados para crítica, toda contrariedade é tida como ofensa ou maledicência, por isso, mais do que antes se refugiam em hábitos fabricados pela mídia ou pelos produtores de comportamentos do momento. Nada é mais seguro do que fazer o que todos fazem.

É por isso também que a customização é uma marca de nosso tempo, ao mesmo tempo, em que imitamos os produtores de comportamento adaptamos a nossa individualidade, aquilo que é só nosso, ou que achamos que seja, pois a customização também se massifica, pois é, por outro lado, a retroalimentação do mercado, o aproveitamento de seus dejetos para novos fins, é a multiplicação dos pães das mercadorias, é a reprodução infinita dos mesmos por meio da mudança de detalhes que pouco os diferenciam, um corte aqui outro acolá, um descosturado na coxa outro no joelho e assim a mesmice e a uniformidade é reproduzida como se não fosse o mesmo e nem o uniformemente igual.
A beleza, hoje em dia, está na ignorância, no não-saber.
A liberdade é poder fazer igual aos outros.
A paz é não ser importunado por problemas alheios.

sábado, 28 de março de 2009

Crônicas do Futebol III



O “Diamante Negro” não é mais Aquele


Hoje acordei de ressaca e para repor a glicose, como um bom chocólatra, comecei a mordiscar um delicioso “diamante negro”, foi quando dei por mim e pensei: poucos são os que sabem da história desse nome e do homem que inspirou tal denominação.


Havia um tempo em que o racismo no futebol era abertamente declarado e a maioria dos times de futebol não aceitava negros. O Vasco foi um dos primeiros times a fazer essa “concessão” e, embora, essa postura seja supervalorizada, o mérito do clube cruz-maltino é pequeno, pois na verdade a aceitação dos negros no futebol foi uma imposição pelo talento de cada um deles. O jogador negro, para ser admitido nos times, tinha que ser muito melhor que seus concorrentes, pois a cor infelizmente era critério de desempate.


As coisas começaram a mudar quando Leônidas apareceu no São Cristovão do Rio de Janeiro, à época um time tradicional, e depois de passagens por Peñarol, Vasco, Botafogo e, finalmente, Flamengo onde se consagrou como o maior jogador de seu tempo, o racismo no futebol brasileiro começou a se disfarçar nos formatos atuais de preconceito, quase imperceptíveis.


Leônidas sucedeu Friedenreich como maior ídolo brasileiro até então. Foi artilheiro da Copa de 1938 na França, onde o Brasil pela primeira vez conseguiu uma posição de destaque em mundiais, perdendo na semifinal para Itália sem a presença de Leônidas que estava contundido, embora sua ausência tenha sido recheada por falácias que difamaram o principal craque daquele mundial.

Uma dessas, Benito Mussolini teria pagado para que Leônidas não participasse daquela partida. A marcação do Pênalti cometido por Domingo da Guia, o maior zagueiro brasileiro da época, alguns dizem de todos os tempos, em um lance sem bola corroborou para insinuações desse tipo, pois a marcação de penalti naquela condição colocava a partida sob suspeitas e acusações, as quais foram rechaçadas por Leônidas que foi indenizado pela justiça contra seus caluniadores.


Leônidas ficou conhecido por sua agilidade e habilidade, foi, senão o inventor de uma das jogadas mais plásticas do futebol, por certo, o seu maior executor, da então chamada bicicleta. Foi admirado em todo mundo, até mesmo no exterior, principalmente, na França onde foi apelidado de homem borracha e no Brasil ficou conhecido como “diamante negro”. Foi o maior jogador até a aparição de Pelé no final dos anos 50, alguns dizem que teria sido maior que o rei se houvesse televisão para documentar seus lances memoráveis e se a Segunda Guerra Mundial não tivesse inviabilizado as Copas do Mundo de 1942 e 1946, onde juntamente com Di Stéfano era, com certeza, o maior craque do Universo.


Suposições e exageros a parte, Leônidas fez parte de um dos maiores times de futebol dos anos 40, ganhador de 5 títulos paulistas naquela década, quando já era, pela imprensa esportiva, considerado um craque em decadência, ora vejam!?. Nesse período ele foi comprado pelo São Paulo por uma fortuna e como um verdadeiro ídolo midiático foi recebido por mais de 10 mil pessoas na Estação da Luz.


Contradizendo seus críticos mais ferrenhos continuou sendo o melhor jogador do país, fazendo seus gols e jogadas fantásticas como o gol de bicicleta que fez contra o Juventus, imortalizada por fotografia e pela réplica no museu do São Paulo no Morumbi.


No auge de sua fama cedeu seu apelido, que virara uma legenda, uma grande marca, para a então brasileira fábrica de chocolates Lacta, dizem que por meros 2 contos de réis, única quantia que recebeu em toda a vida da empresa. É, até hoje, considerado um dos maiores ídolos do São Paulo, clube que sempre o reverenciou mesmo quando já não era mais jogador de futebol, infelizmente, fato raro no futebol brasileiro, onde ídolos da envergadura de Leônidas, quase sempre, são relegados ao esquecimento.