sábado, 25 de julho de 2009

Poesia




Diário de um daltônico


Eu preciso ver o mundo
O que acontece para além da minha janela trêmula e sem foco
Que é uma sobrancelha que se enruga com o vento
Ou o meu olhar que se envergonha com o seu

Preciso sentir o mundo correr pela estrada a fora
Ver o que eu posso fazer
Conseguir o que eu quero
Mas eu não sei o que eu quero
Nem sei se sei querer
O meu desejo não dura muito tempo
É como um orgasmo precoce, um sorriso sem graça.
O que eu quero é só de vez em quando.

O sorriso da serpente deslizou
Até chegar no seu destino
Não quero o amanhã sem graça de todos os dias
Quero ficar onde estou e ao mesmo tempo sinto vontade de correr
Para todos os lados que meu nariz apontar

Não quero obrigações ou imposições
Quero amanhecer quando puder
Não quero viver a mercê da sociedade,
Dos seus costumes estúpidos

O que eu quero é te ter no meio da rua
Para que todo mundo veja inclusive quem você ama
Quero ser como os cães
Que fazem o que querem e quando querem
Não precisam de ritos para dissimular o que mais desejam
São autênticos.
E é isso que eu quero.
Não quero disfarçar o que penso ou esconder o que sinto
Quero poder dizer qual a cor do meu céu...
Pelo menos é isso que eu quero agora
O antes e o depois eu já não sei
Só existe o agora
O ontem é só lembrança e o amanhã é só sonho
Enquanto não se tornar o hoje.


25/07/91

Nenhum comentário: