terça-feira, 8 de março de 2011

O dia em que a paixão deixou de ser inútil


Francisco saiu de casa cedo, estava ansioso, tinha chegado o grande dia. Precisava estar bem vestido, seria uma ocasião especial, não teria mais nenhum desejo para realizar e nenhuma necessidade para satisfazer, quando saiu de casa naquela manhã. Francisco assim pensava.
Comprou do melhor sapato, como nunca se dera ao luxo; o terno era de microfibra, sempre sonhara com um daquele, a camisa para ficar tom sobre tom, tudo bem apropriado. Era realmente um grande dia.
Quando terminou de fazer as compras, Francisco pensou, precisava de um bom banho, mas antes passara no melhor cabeleireiro, deu um trato geral. Francisco era outro homem, quase além de si.
Então, decidiu alugar o melhor quarto do melhor hotel daquela cidade, assim o fez; pegou a chave, subiu, tomou um belo banho na banheira de hidromassagem, vestiu-se, perfumou-se e saiu, chegara o momento.
Entrou no elevador, em vez de descer subiu, finalmente estava subindo, mais uma vez pensou, estava imponderado, chegou ao alto do grande hotel, a cidade se abria em um grande sorriso, o sol estava encoberto, mas por nuvens claras, estava perfeito. Era o grande dia. O grande dia de Francisco.
Francisco abriu seus braços e deixou todos os pensamentos saírem, ficou leve e vazio, tão leve quanto o ar, Francisco então voou, voou, para encontrar o nada, para transcender-se. Francisco tornou-se Deus, não sentia, não desejava, era um Deus. Um verdadeiro Deus.
Na rua abaixo:
Olha, parece o faxineiro do meu prédio, coitado, uma pessoa tão boa, tão gentil, tão educado. Não, acho que não era o faxineiro lá do prédio, apesar do sangue no rosto está muito moreninho.
Hei, esse não é o encanador que foi lá em casa?, o que será que aconteceu?, parecia um homem tão lúcido.
Não, que nada, este é o cara que me deu um cheque sem fundo, não valia nada, bem feito.
Está bem vestido, parece bem importante. Esses ricos têm de tudo, ganha tudo nas mãos e não dão valor, se fosse pobre não fazia isso, é coisa de desocupado.
Hei moça, você que está chorando, você o conhecia?
Parece meu noivo, não é possível, meu Deus... ah...
Calma, calma, pode ser outra pessoa, ele está tão, tão ...
Para trás, dêem espaço, para trás, para trás...


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