sábado, 12 de julho de 2008

Sensibilidades Perdidas - uma introdução

Imagem I:
“Uma criança suja pedindo esmola no sinal, um carro conversível, importado com um motorista de óculos escuros que ignora o menino sujo com a mão estendida”.

Será que estamos anestesiados? Que sociedade é esta em que o individualismo extremado nos impede de se indignar? Que estado de inação é esse que nos impede de se revoltar contra as injustiças? Que espécies de governos são essas que nos controlam até nos mínimos detalhes sem que percebamos? Parece que estamos em um roteiro pré-determinado, não há surpresas, não há novidades e nem imprevisibilidades. Isso é vida humana? Cadê a capacidade humana de se indignar, de se revoltar? Será que somos ainda realmente humanos? E se somos, que novos humanos somos nós? A imagem dessa humanidade maquínica é a da Resignação. Tentaremos nesse trabalho resgatar ou rememorar aquilo que foi um dia a imagem de uma humanidade: fazer por si mesmo sem esquecer-se do outro, ser autônomo e ético ao mesmo tempo.

Não estamos interessados se as pessoas que lutavam por essa nova humanidade ou contra a desumanização em andamento eram sonhadoras, utópicas ou pouco racionais. O que é ser utópico? Se ser utópico for acreditar em algo que jamais existirá, em algum momento de nossa vida, seja na mais remota infância de nosso ser, fomos um dia utópicos, pois acreditar naquilo que ainda não existe é o primeiro passo para criação e a criação é a ação humana em sua plenitude. Quem mais pode criar a não sermos nós? Esta miséria em meio a todo esse luxo é uma criação nossa.

Nesse sentido, somos humanos mesmo quando nos desumanizamos, mesmo quando olhamos apenas para dentro, mesmo quando rejeitamos o outro e obviamente ficamos perdidos sem encontrar conosco, com os nosso eus. Não há fora sem um dentro, não há indivíduo sem o outro, e quando ignoramos isso chegamos ao fundo do poço de nossa miséria em plena sociedade de consumo. Nesse instante, nenhum produto das pilhas de mercadoria que o deus mercado nos oferece pode nos impedir de nos sentirmos solitários, nenhuma compra pode realizar ou devolver-nos aquilo que vendemos tão barato e nos era tão caro: o outro, os outros, aqueles em que estava o nosso eu... nossos eus.

Precisamos tentar trazer à tona um outro tipo de ser, outros hábitos que foram apagados pelo racionalismo exíguo, enfim, tentaremos reviver aspectos de sensibilidades pedidas. Uma parte daquilo que poderíamos ter sido, mas sem nostalgia, pois a história, o fluxo do tempo, não nos permite essa regalia. Tentaremos enxergar o que havia debaixo do arranha-céu que explodiu, a semeadura que foi asfixiada pela cal e pelo cimento da construção imponente.

Daquilo que os anarquistas fizeram nos interessa seus hábitos, a ética que emana de seus discursos calorosos e apaixonados, enfim, uma sensibilidade política que se tentou enterrar com a democracia liberal, que foi desacreditada pelo governo representativo, criador e serviçal do deus mercado.

Deleuze e Gattari escreveram: Existe algum meio de subtrair o pensamento ao modelo de Estado?

Continua...
Nota: Tentarei a partir de hoje escrever a minha dissertação de mestrado online, com isso, quero mostrar o andamento da minha pesquisa sobre a ação direta anarquista, minhas idas e vindas dessa tentativa de compreensão, minhas escolhas... e por isso, estarei aberto a críticas e a possíveis sugestões. Minha pretensão é estabelecer um diálogo concomitante com a escrita.

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