sábado, 4 de outubro de 2008

Greve



A palavra, vinda do francês, se expandiu da interrupção do trabalho para outras recusas.
Sérgio Rodrigues
(Escritor e Jornalista)

A palavra “greve” como tantas inconveniências vem, diria um ultraconservador – do francês. Sua história começa no século 12 com o vocábulo grève, “praia, terreno de areia ou cascalho à beira-mar ou beira-rio”. Antes de adquirir seu sentido político, a palavra passou a batizar uma praça de Paris, à beira do Sena, que por ter piso arenoso e sem calçamento era chamada Place de Grève (hoje Place de l’Hotel-de-Ville).


Segundo Houaiss, o local era “ponto de reunião de trabalhadores e operários sem emprego ou descontentes com as suas condições de trabalho; daí a expressão faire grève (1805)” – isto é, “fazer greve”, já então com o sentido de interromper o trabalho como forma de protesto ou reivindicação, que mais tarde seria ampliado para outras modalidades de recusa, entre elas a greve de fome. E por que os trabalhadores se reuniam naquela praça? Explica Márcio Bueno, autor de A Origem das Palavras (José Olympio): “Nesse local funcionou durante muito tempo a Bolsa do Trabalho, encarregado de cadastrar desempregados”.


O primeiro registro de “greve” em português é de 1873, mas até as primeiras décadas do século 20 o galicismo (termo oriundo do francês) era bombardeado pelos puristas, que insistiam no uso de “parede” em seu lugar. Hoje ninguém questiona a palavra, mas certos patrulheiros do idioma, sucessores espirituais dos puristas já ensaiam submeter a expressão “greve de fome” à mesma campanha pela qual passou “risco de vida”. Fórmula consagrada e perfeita (risco de vida = risco para a vida), essa expressão foi tão atacada por professores de mente literal que boa parte dos jornais e das revistas a substituiu por “risco de morte”. Ora, a greve é de fome ou de comida?

Revista da Semana, (edição 16, ano I), 17 de dezembro de 2007.

Nenhum comentário: