segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Artigo: As Dialéticas

A Dialética de Cabeça Para Cima




Resumo: A dialética, um dos conceitos chaves tanto do pensamento hegeliano quanto do materialismo histórico, é o tema central deste singelo texto. Procura-se nele compreender o conceito de dialética partindo de uma hipótese inicial: a de que Marx não inverteu a dialética hegeliana, mas que, ao contrário, a des-inverteu. Para tanto, inicialmente, faz-se referência à noção de dialética em Hegel, ao seu potencial revolucionário característico da Lógica e da Fenomenologia que se atrofia na Filosofia do Direito. E, num segundo momento, procura ressaltar o processo de des-inversão feito por Marx e alguns dos corolários por ele enfrentado.
Palavras chaves: dialética, materialismo histórico, idealismo, inversão.


Abstract: The Dialectic, one of the key concepts as much of the hegelianism thought as of historical materialism, it is the central subject of this simple text. It is looked for understand the dialectic concept starting of an initial hypothesis: that Marx did not invert the hegelian dialectic, but in contrast, no inverted it. In such a way, initially, make reference to the notion of dialectic in Hegel, his revolutionary potential characteristic of Logic and Fenomenology that is cuted in Law Philosophy. And, in a second moment, it is looked for stand out the process of no inversion made for Marx and some of the corollaries for faced it.
Keywords: dialetic, materialism historical, idealism, inversion.



1. A (Des)Inversão da Dialética Hegeliana



Pretende-se aqui defender a idéia de que Marx não inverteu a dialética hegeliana, posto que esta, na sua concepção idealista, é que estava invertida. Marx, então, a “colocou de pé”, resgatando todo seu potencial metodológico revolucionário que se mostrava já na Lógica e na Fenomenologia. No entanto, quando Hegel tentou aplicar seu método à análise da sociedade (Filosofia do Direito) a concepção idealista e a confusão de Hegel real=racional, possibilitou a ele apenas apreender a projeção da sociedade burguesa (Estado burguês), isto é, o que a ideologia burguesa projetava na superestrutura política e jurídica da sociedade capitalista.
Portanto, ao colocar a dialética de cabeça para cima, Marx não só rompeu com o idealismo alemão (Ideologia Alemã), a base de sua formação filosófica, como foi obrigado, para compreender o capitalismo, a estudar os economistas ingleses e, por conseguinte, as teorias sociais surgidas no bojo da lutas sociais que estavam acontecendo por toda a Europa na década de 1840. Marx, porém, não se contentou em conceber uma nova filosofia, Materialismo Histórico Dialético, desenvolveu, ao longo dos embates teóricos (com a filosofia alemã, com a economia clássica inglesa e com as teorias sociais francesas) e práticos (organização da I Associação Internacional dos Trabalhadores) de sua formação, a filosofia da práxis que postulava não apenas a compreensão, mas também a transformação da realidade.
Nesse contexto, esse escrito se propõe apenas a ressaltar a importância do debate de Marx com a filosofia hegeliana para a concepção do materialismo histórico, no âmbito de sua formação prático-teórica.
É, em suma, uma interpretação marxista que como tal pode ser tendenciosa, à medida que, no transcorrer da argumentação faz prevalecer uma das perspectivas teóricas em estudo. À parte isso, procurou-se não mais que esclarecer o entendimento do conceito de dialética em Hegel e, principalmente em Marx, sem obscurecer o mérito que cada um, a seu tempo, teve.



2. A Dialética Hegeliana


Na Fenomenologia do Espírito, Hegel procura estabelecer os paradigmas de uma nova ciência do conhecimento. A Fenomenologia, nesses termos, é a experiência da consciência no movimento do autoconhecer. Nesse percurso filosófico, Hegel se contrapõe à filosofia transcendental de Kant que limitava com seu agnosticismo a razão, que não poderia, conforme a filosofia kantiana, conhecer a coisa em si. Para resolver esse problema e a limitação da razão kantiana, Hegel utiliza a noção de imanência, com isso, estabelece uma outra noção de conhecimento, a de que a coisa em si é o próprio objeto que se dá a conhecer, ou seja, o objeto só existe enquanto pensado e conhecido pela consciência humana, em termos hegelianos, pelo espírito. O Homem, então, passa a ser o sujeito produtor do conhecimento.
O conhecimento em Hegel é o absoluto que se deixa conhecer, aos poucos, por meio da história do progresso da humanidade. O absoluto é o todo que é cognoscível, à medida que tudo que existe faz parte desse todo, e as particularidades só podem ser conhecidas quando compreendidas como parte do todo. O conhecimento das partes é também conhecimento, em parte, do todo.
Categoria muito cara à noção de dialética e, por conseqüência, ao pensamento de Hegel é a idéia de devir. O conhecimento do objeto só é possível à medida que se o conhece em seu devir. Dessa forma, a própria noção de conhecimento muda, pois este também está em uma constante transformação, assim, como seu objeto e seu método. O objeto só é cognoscível quando apreendido em seu devir histórico. O essencial é o inessencial, o que é, é aquilo que já não é.
Assim, seguindo a concepção de devir está a noção de negação que imprime movimento ao método e o torna apto para compreender a realidade porque é a própria realidade, pois esta é dialética, segundo Hegel. O debate filosófico de séculos entre Parmênides e Heráclito torna-se vão, a partir de Hegel, porque os dois estavam certos ao mesmo tempo. Nesse sentido, a função da filosofia é compreender as essências, por outro lado, na realidade tudo se transforma, portanto, é um devir. Então, para Hegel, a essência do conhecimento é a transformação, é o seu movimento. Para tanto, o objeto é, enquanto tal, quando se torna objeto da consciência, e a consciência só apreende o objeto em seu movimento, em seu devir.
Da coisa em si ininteligível de Kant ao saber imediato de Schelling, que fez um mau uso da dialética, pois a utilizou no saber imediato, técnico, estático, o espírito fez um longo trajeto até chegar ao conhecimento de si mesmo, por isso, o conceito que se apreende do movimento dialético do saber absoluto, também se forma nesse movimento, pois se já estivesse pronto não compreenderia, não tornaria realidade, tão somente sua refração, segundo advertência do próprio Hegel em seu prefácio à Fenomenologia do Espírito. Assim, a dialética hegeliana supera o limite da razão estabelecido por Kant quando sobrepuja a relação sujeito/objeto reconstruindo-a numa relação dialética, rompendo, assim com o dualismo kantiano.
Em termos hegelianos, a consciência é objeto cognoscível quando se aliena (negando a si mesma, consciência em si) e torna-se sujeito cognoscente quando supera a sua alienação (consciência para si). Em outras palavras, para Hegel, método, sujeito e objeto se metabolizam dialeticamente. Somente a consciência manifesta o conhecimento, apenas a consciência pode ser em si e para si, pois pode ser, ao mesmo tempo, sujeito (que se põe a conhecer), objeto (que se dá a conhecer) e método, no uso da lógica dialética, que compreende o real porque apreende o devir, tornando-se o próprio devir, isto é, o real; o método dialético compreende o real porque o próprio real é dialético. Assim, o real se configura como tal, no movimento de negação de si mesmo se conhecendo, se concebendo e se superando. O racional torna-se real para compreender o real que é real à medida que se torna racional, isto é, conhecido. Nesses termos, a filosofia hegeliana é revolucionária, pois o real é a construção racional do homem acumulado ao longo da história do pensamento (do espírito), isto é, ao longo da experiência da consciência.
O todo é sempre o saber aprimorado a fim de se chegar ao saber absoluto. No longo trajeto da experiência da consciência, esta alcançou o conhecimento de si mesma. A consciência se fez objeto, o ser-outro para se conhecer a si, se alienou, foi consciência e, ao mesmo tempo, negação de si mesma, para se autoconhecer e se superar. Nesse sentido, a consciência é objeto enquanto sujeito negado e torna-se sujeito enquanto objeto conhecido, conceitualizado, que reinicia o se conhecer em si e para si no devir da história.
Assim, o espírito se exterioriza para se conhecer, como Ser pensante que pensa o seu próprio Eu que se dá também como Eu pensado, alienando-se, para se conhecer e se superar formando a síntese, conhecimento (conceito) em seu constituir-se. O método como a consciência se dá a conhecer, já o modifica ao conhecê-lo e o próprio conhecimento é o espírito conceitualizado, isto é, a verdade. O conceito, a evidência do conhecimento, é a manifestação de sua consciência em sua verdade, e um dilaceramento que o faz ir além, superando-o, atualizando-o.


3. A Dialética Colocada De Cabeça Para Cima

A transformação da dialética hegeliana empreendida por Marx, visa romper com a limitação do método em Hegel, que estava relacionada com a sua condição política conservadora. A dialética idealista projetava conceitualmente a realidade que a burguesia objetivava. Em sua filosofia explicitamente política (Filosofia do Direito), Hegel, na tentativa de aplicar seu método à realidade, não forneceu mais do que a legitimação teórica para construção do Estado prussiano[1], diferentemente, do que se encontrava em obras como a Ciência da Lógica e na Fenomenologia do Espírito, um método revolucionário que colocava a consciência humana como produtora do real, se bem que, confundindo este com o racional.
A primeira empreitada de Marx, nesse sentido, foi reabilitar o método dialético à condição revolucionária implícita nos escritos (Fenomenologia e Ciência da Lógica), dando-lhe características marxianas, desfazendo a confusão real/racional de Hegel. Isto implicou, entre outros corolários, reconhecer o real, como um real “invertido” (no sentido de uma crítica externa à ideologia burguesa) pelo trabalho humano alienado, o que se constituiu num salto qualitativo, pois pressupôs que a vida determina a consciência e não o inverso.
Pode-se afirmar, ainda que provisoriamente, que Marx não inverte a dialética hegeliana, esta é que estava invertida, o que fez Marx foi restaurar a sua potencialidade revolucionária, enquanto método capaz de compreender/negando o capitalismo para transformá-lo. Em outras palavras, a transformação da dialética visou manter a capacidade explicativa do método, ao mesmo tempo, possibilitá-lo à crítica da sociedade capitalista apreendendo dialeticamente a realidade, no entanto, apenas a partir de Marx, com a intenção de, também, transformá-la. Em Marx: o racional cria por meio da consciência que se desaliena do real aparente (ideologia burguesa), desumano e capitalista um novo real. O real (capitalismo em crise, resultado de suas contradições) abre a possibilidade para a desalienação da consciência (de classe, em Marx) que cria novas relações, outra realidade. O pensamento construtivo só se forma por meio das contradições da realidade que o permite penetrar na mera aparência das coisas (ideologia), indo à busca das essências que aponte os problemas e alicerces, além de construir os parâmetros de uma nova realidade; o comunismo.
Todo esse empreendimento crítico de Marx tem como pressuposto teórico a constatação de que há, então, dois Hegel, o da Ciência da Lógica e o da Fenomenologia do Espírito que promove a construção da realidade pelo espírito, o autopensamento, o autoconhecimento (o conceito é o conceber), o real; e o outro, da Filosofia do Direito, o Hegel conservador, o que paralisa a dialética na falsa (na aparência criada pelo domínio burguês) síntese do Estado prussiano (que estava em formação).
Hegel não conseguiu, assim, aplicar a dialética idealista à realidade objetiva, em parte, porque confundia o conceito com o real, método com o objeto. O método dialético, assim, era confundido com a realidade invertida caracterizada pelo trabalho alienado imposto pela dominação burguesa.
(...) Hegel caiu na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento que se sintetiza em si, se aprofunda em si, e se move por si mesmo – enquanto para Marx, é o – método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto, - e isto - ; não é senão a maneira de proceder do pensamento para se apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado. Mas este não é de modo nenhum o processo da gênese do próprio concreto.[2]

Marx, assim, não confunde como Hegel, o real com o racional.
A própria dominação político-econômica burguesa legitimava essa dominação “invertendo” ideologicamente esta realidade, fazendo do trabalho alienado conseqüência da propriedade privada, esta, por sua vez, justificada pelo direito burguês fundamentado na ética do trabalho. Em outras palavras, o real hegeliano era a aparência fabricada pela ideologia burguesa para a manutenção do sistema capitalista.
Marx assim, ao des-inverter a dialética hegeliana em dialética materialista, resgata o potencial revolucionário, crítico e criador do método, isto é, recoloca a dialética em seus verdadeiros termos inovadores, despojada da inversão idealista que, além de confundir real com racional, apreendia a ideologia burguesa como se fosse o real. Isso, porém, não impede Marx de reconhecer o mérito de Hegel, conforme o próprio Marx escreveu no prefácio de O Capital:
A mistificação porque passa a dialética nas mãos de Hegel não o impediu de ser o primeiro a apresentar suas formas gerais de movimento, de maneira ampla e consciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É necessário pô-la de cabeça para cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico. A dialética mistificada tornou-se moda na Alemanha, porque parecia sublimar a situação existente (Filosofia do Direto). Mas na sua forma racional, causa escândalo e horror à burguesia e aos porta-vozes de sua doutrina, porque sua concepção do existente, afirmando-o, encerra, ao mesmo tempo, o reconhecimento da negação e da necessária destruição dele; porque apreende, de acordo com seu caráter transitório, as formas em que se configura o devir; porque, enfim, por nada se deixa impor; e é, na sua essência, crítica e revolucionária. (Fenomenologia do Espírito e Ciência da Lógica).[3]
Forma-se assim, a Teoria da Práxis ou o Materialismo Histórico Dialético, que de acordo com o próprio Marx:
Meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente oposto. Para Hegel, o processo do pensamento – que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de idéia – é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado.[4]
E essa construção metodológica supera os próprios limites ideológicos e históricos da teoria hegeliana, pois, Marx resgata a essência da teoria que, numa concepção materialista, supera os limites em que foi concebida, para reavivá-la no sentido que lhe era imanente na Fenomenologia, de autofilosofia criadora e não um conceito paralisado da Filosofia do Direito.
Para Marx, a filosofia passa a ter uma função social de transformar-se em arma crítica, e nesse contexto, deve, sobretudo, organizar e dar sentido às massas, mostrando-lhes sua real posição alienada/explorada no capitalismo. O proletariado é, por meio do materialismo histórico, a força lógica deduzida do domínio real do capital sobre as relações humanas.
Sobre a dialética hegeliana é possível dizer que esta apreendia apenas a expressão jurídica e cultural da sociedade burguesa (sua ideologia), fundada na apropriação dos meios de produção por parte da burguesia que explora a força de trabalho, se apropriando também do produto do trabalho da massa proletária (de onde extrai a mais-valia), que se aliena em troca da mera sobrevivência. O trabalho alienado produz uma concepção alienada da história, portanto, o que a dialética hegeliana captava era a realidade alienada. É por isso, que Hegel parte da propriedade privada como realidade dada, indiscutível, quando, em verdade, esta se engendra no processo histórico em que os trabalhadores vão perdendo os seus meios de subsistência ou seus meios de produção, assim, com a crescente divisão do trabalho, o trabalhador não se reconhece mais no resultado do seu trabalho e nem como produtor de sua própria história, posto que não é mais dono de seu trabalho, nem dos meios que o faz existir, por outro lado, a burguesia também não produz sua própria existência, já que se apropria do trabalho de outrem. A expressão dessa lógica que promove a desigualdade e a desumanização do ser humano, nada mais é, do que a ideologia burguesa defensora da formação do Estado de direito que garantiria a liberdade e igualdade jurídicas, mas não a igualdade de condições, pois a sociedade burguesa se forma na própria desigualdade. Como se vê, a dialética hegeliana, por ser idealista, não vai à base da sociedade, se contentando com a sua superestrutura jurídica, fundamentalmente, trata-se da realidade distorcida pela ideologia burguesa, nada mais que isso.
Por isso, a crítica à Ideologia Alemã consiste no marco em que Marx e Engels estabelecem as bases do materialismo histórico. Na Ideologia, Marx reforça a crítica materialista de Feuerbach ao misticismo idealista de Hegel, porém, sem descartar o núcleo teórico da filosofia hegeliana, pois segundo Marx, apesar dos equívocos, nenhum dos hegelianos conseguiu superar o mestre, e, embora, Feuerbach apontasse para a crítica materialista, este não percebe o objeto como atividade humana sensível (o indivíduo com múltiplas relações com outros indivíduos, portanto, como ser social), mas somente pela intuição, apreende o indivíduo em sua singularidade, ignora o conjunto das relações sociais que define sua realidade enquanto tal.
É na autogeração fenomenológica da dialética identificado em Hegel por Marx, que a este fez compreender a autogeração concreta no trabalho como processo auto-reflexivo da realização da essência humana, é a condição de trabalhador alienado na dominação capitalista que possibilita a negação e a construção (revolução) de uma nova realidade.
Apesar de toda a importância do método dialético em Hegel para a construção do materialismo histórico, Marx enfrentou muitas dificuldades na estruturação de sua filosofia da práxis, pois, na dialética idealista, a alienação era absorvida no interior da estrutura do próprio pensamento, por outro lado, a alienação objetiva não poderia ser superada dentro dos limites do capital, pois a superação dela pressupõe o próprio fim do capital, tendo como base a realidade histórica, isto é, nas relações sociais de existência, o trabalho e o capital são irreconciliáveis.
Assim, dentro da perspectiva marxiana, a consciência não pode ser a força motriz em si mesma, pois esta no capitalismo é produto da alienação do trabalhador, assim o processo histórico fica invertido, tanto que o trabalhador no capitalismo é tomado como objeto e não como sujeito porque sua relação com o trabalho é de alheamento e sua relação com outros homens é mediada por mercadorias, objetivando-se como se fossem trocas comerciais, desumanizado e sem consciência. O homem vê o outro como objeto mediado pelas mercadorias e, assim, todos se vêem desumanizadamente. Assim para Hegel, o que era o resultado, é para Marx, apenas o ponto de partida, o problema a ser superado, a sociedade burguesa como tal. Disso decorre, que a essência humana está descaracterizada posto que está alienada.
Deste modo, se apropriando da dialética, mas rompendo com o idealismo hegeliano (o marco desse rompimento, assim chamado por Engels e Marx: o “acerto de contas com a nossa antiga consciência filosófica”,[5] é a Ideologia Alemã que por muito tempo ficou abandonada “à crítica roedora dos ratos”) que a corrompia e limitava seu potencial metodológico e crítico, isso permitiu a Marx analisar a sociedade capitalista por outra perspectiva:
O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.[6]
Desse modo, Marx, diferentemente, de Hegel, percebe que a consciência, no capitalismo, está alienada, e justamente, por estar alienada que se abre a possibilidade para a superação desse estágio social, que é a supressão do mesmo, posto que a síntese das contradições da base real da sociedade entre capital e trabalho, não é outra senão a superação do próprio sistema capitalista.
É certo que, quando Hegel apreende a realidade enquanto produção racional do homem dá-se um grande avanço. Pois o homem passa a ser o produtor de sua própria história, porém o racional apreendido por Hegel que culminaria no Estado Burguês (Filosofia do Direito), era, no entanto, a irracionalidade do capitalismo produzida pela auto-alienação do homem, era, portanto, a aparência do real e não o real.
A contradição do capitalismo, para Marx, só é superada, não mais no sentido estritamente lógico como na formulação hegeliana, mas por meio da superação do próprio capital, na constituição de outra realidade.
Em Hegel a contradição se reconcilia (em síntese) no próprio pensamento; em Marx pressupõe a constituição de uma outra realidade (superação do capitalismo). E como o capital busca se universalizar, sua crise também se universaliza. Marx não se preocupou, meramente, em demonstrar a inversão do real (a desvendar as essências da aparência produzida pela dominação burguesa), se propôs a transformá-la, a humanizar o homem (tanto o burguês quanto o trabalhador, ambos alienados, este devido ao resultado do seu trabalho lhe ser estranho e àquele porque não produz a sua própria existência) enquanto ser criativo e genérico.
A filosofia da práxis concebida por Marx, ao colocar a dialética de cabeça para cima, se propunha a compreender a história das relações sociais em confronto com as forças de produção, e nesse estudo das condições sociais de existência revelou-se a polarização da luta entre duas classes antagônicas (burguesia e proletariado).
O proletariado na condição de classe explorada e alienada é, no capitalismo, o sujeito que imprime a transformação, posto que é a própria negação de sua condição alienada (consciência em si), e esta, por sua vez, lhe permite a consciência de seu papel de transformação da sociedade (consciência para si), portanto, é a possibilidade concreta de rompimento com o sistema que a explora e a desumaniza.



Bibliografia



FLICKINGER, Hans-Georg. Marx e Hegel – O porão de uma filosofia social. Porto Alegre: L&PM/CNPq, 1986.
GARAUDY, Roger. O Pensamento de Hegel. Lisboa: Moraes Editores, 1971.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Ciencia de la Logica. Buenos Aires: Solar Hachette, 1968.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia del Espíritu. México: Fondo de Cultura Económica, 1966.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do Espírito. São Paulo: Abril Cultural, Col. Os Pensadores, 1999.
MARX, Karl. A Ideologia Alemã. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.
MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Abril Cultural, Col. Os Pensadores, 1978.
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Civilização Brasileira, 1998.
MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, Col. Os Pensadores, 1996.
RAMOS, Cesar Augusto. Liberdade subjetiva e Estado na filosofia política de Hegel. Curitiba: Editora UFPR, 2000.
ROSENFIELD, Denis L. Política e Liberdade em Hegel. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1983.
SANTOS, José Henrique. Trabalho e Riqueza na Fenomenologia do Espírito de Hegel. São Paulo: Ed. Loyola, 1993.



[1] Este artigo pretende apenas mencionar a dificuldade que Hegel teve ao aplicar a dialética à prática, para depois afirmar que na Filosofia do Direito a dialética hegeliana se encontra invertida, posto que apreende a manifestação jurídica burguesa e o Estado como o real, assim nas palavras de Cesar Augusto Ramos, o Estado torna-se a “expressão derradeira da Idéia de liberdade e fundamento da liberdade subjetiva”. Cf.. RAMOS, CESAR A., p. 14. De forma restritiva e ligeira pode se dizer que a dialética da Filosofia do Direito é um conceito paralisado que, portanto, perdeu suas características fundamentais.

[2] MARX. Para a Crítica da Economia Política., p.40.



[3] MARX. Prefácio à edição de 1873, de O Capital. Ed. Civilização Brasileira, p. 29, 1998.



4 Ibdem., p. 28, 1998.



[5] MARX. Para a Crítica da Economia Política., p.53.



[6] Ibdem, p. 52.

26 comentários:

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my ѕіte; Minoxidil