domingo, 24 de abril de 2011

O que enjoa é o óbvio

Me diga onde fica o óbvio

Diga-me, pois eu irei para o outro lado

Se você gosta do óbvio,

Eu quero gostar de outra coisa

Eu quero outra coisa que ninguém viu

Mesmo que seja aquilo que você gosta

Eu quero gostar de outra coisa naquilo que você gosta

Não me diga para fazer o mesmo

Isso é me torturar, e para essa tortura não tem anistia

Se você quer sair, ir ao mesmo lugar de antes

Tudo bem, mas não venha com a mesma cara

Com as mesmas ideias

Por favor, não cante aquela mesma música

Nem fale que me ama do mesmo jeito

Aliás pare de me amar

Isso enjoa



É angustiante viver com náusea,

Mas prefiro a angústia à estagnação e à estabilidade

Dê-me o mundo de Maquiavel e não o do Leviatã de Hobbes

Eu quero a respiração ofegante do dia-a-dia

E não a monotonia do sono sem sonho, sem pesadelo



Eu sinto náusea por tudo que já gostei demais

Gostei demais,

além da conta,

chega,

não gosto mais,

não quero mais,

não posso mais.



O desagradável não dá enjôo, irrita em princípio,

Mas é chato apenas, e o que é chato a gente ignora, não sente náusea,

A náusea é outra coisa, é ânsia de expurgar o que está dentro, se esvaziar

Assim como é ânsia de outra coisa que não se tem, que só se deseja

O que é demais é que causa náusea

Não sentimos enjôo do que não gostamos e sim do que gostamos em demasia



Por isso quero fugir daquilo que seria o óbvio

Quero evitar o óbvio, a decisão fácil, a mais provável

Me diga onde está o óbvio que eu vou para outro lado

Parece um contrassenso dizer que quer evitar o óbvio, pois isso parece muito óbvio

Até nisso o óbvio me persegue, mas me ajude a ficar alerta

Porque daqui a pouco será outra pessoa a me ajudar a fugir do óbvio,

só para não ficar óbvio

Então me diga para onde foi o óbvio, porque eu vou para o outro lado

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