Me diga onde fica o óbvio
Diga-me, pois eu irei para o outro lado
Se você gosta do óbvio,
Eu quero gostar de outra coisa
Eu quero outra coisa que ninguém viu
Mesmo que seja aquilo que você gosta
Eu quero gostar de outra coisa naquilo que você gosta
Não me diga para fazer o mesmo
Isso é me torturar, e para essa tortura não tem anistia
Se você quer sair, ir ao mesmo lugar de antes
Tudo bem, mas não venha com a mesma cara
Com as mesmas ideias
Por favor, não cante aquela mesma música
Nem fale que me ama do mesmo jeito
Aliás pare de me amar
Isso enjoa
É angustiante viver com náusea,
Mas prefiro a angústia à estagnação e à estabilidade
Dê-me o mundo de Maquiavel e não o do Leviatã de Hobbes
Eu quero a respiração ofegante do dia-a-dia
E não a monotonia do sono sem sonho, sem pesadelo
Eu sinto náusea por tudo que já gostei demais
Gostei demais,
além da conta,
chega,
não gosto mais,
não quero mais,
não posso mais.
O desagradável não dá enjôo, irrita em princípio,
Mas é chato apenas, e o que é chato a gente ignora, não sente náusea,
A náusea é outra coisa, é ânsia de expurgar o que está dentro, se esvaziar
Assim como é ânsia de outra coisa que não se tem, que só se deseja
O que é demais é que causa náusea
Não sentimos enjôo do que não gostamos e sim do que gostamos em demasia
Por isso quero fugir daquilo que seria o óbvio
Quero evitar o óbvio, a decisão fácil, a mais provável
Me diga onde está o óbvio que eu vou para outro lado
Parece um contrassenso dizer que quer evitar o óbvio, pois isso parece muito óbvio
Até nisso o óbvio me persegue, mas me ajude a ficar alerta
Porque daqui a pouco será outra pessoa a me ajudar a fugir do óbvio,
só para não ficar óbvio
Então me diga para onde foi o óbvio, porque eu vou para o outro lado
Nenhum comentário:
Postar um comentário