terça-feira, 26 de julho de 2011

Política: violência e persuasão (ou violência sutil)


A política se manifesta em diferentes modalidades de violência, como tipos específicos de força. Assim, ao mesmo tempo em que existe para suprimir a violência, se faz enquanto persuasão, pois procura ocultar a violência exercida.
Como ocultamento da violência, a política é um agir em concerto com alguns que a exerce sobre outros que a sofre. Quem age, exerce o poder em correlação com seus pares. Assim procura induzir, conduzir, instigar, convencer, coagir, provocar, ordenar, dominar, obrigar, representar, governar... em conjunto com aqueles que a exerce e contra aqueles que, no momento, a sofre.
Nesse sentido a política também é um tipo específico de violência, ou melhor, que cada agir político, em sua especificidade, expressa ou representa modalidades de violência, abrangendo um amplo espectro de matizes, que vai da mais singela a mais complexa, da mais inócua a mais cruel, da mais justa e suportável a mais iníqua e insustentável.
Sendo assim, o limite da política é a própria vida, “um senhor deixaria de ser senhor se matasse o seu último escravo”, a violência nunca pode ultrapassar o limite da vida na qual ela é exercida, a violência em seu grau máximo, que liquida o outro, liquida também o exercício de poder, portanto, a própria política. A aproximação com seu auge é, ao mesmo tempo, o princípio de seu fim. Toda política é força, mesmo que disfarçada, mas o exagero da força prenuncia seu fim, por isso, seu uso deve ser moderado, controlado, canalizado para a política perdurar.
É por isso também que alguns dizem que a política acaba quando se usa a força ou a violência. Não, ela continua política, apenas utiliza os recursos da violência que são considerados últimos, mas que são últimos apenas quando deixam de estar sob um controle estrito, correlacionado e respaldado pelo jogo de forças que o erigiu. Em suma, a violência só é um último recurso quando não é mais utilizado em concerto com os pares que sustenta os poderes da política instituída.
A política é um exercício de poder, e se concretiza como a percebemos, quando ao surgir consegue negar sua origem bélica. A política surge, aparentemente, para findar a violência, a guerra que a provocou enquanto ação. É com este intuito que ela se faz política, e neste ocultamento está sua legitimação. Ela procura limpar o sangue que a criou, para que como poder  agora estabelecido em concerto, não se use mais a força que a instituiu, isto é, a violência que a gerou contra ela mesma.
Deste ponto em diante, não se quer mais violência, só persuasão.  A violência deixa, aparentemente, de fazer parte das regras do jogo, somente a arte ou a técnica do convencimento torna-se legítimo. Porém, ao encobrir a violência que a gerou, a política passa a exercer um outro tipo de violência mais sutil, mas nem por isso, menos eficaz. Desta forma, mesmo quando se passa por exercício pacífico de vontade, ainda continua sendo uma modalidade de violência.
Isso, porém, não iguala todas as formas de fazer política, a violência mais sutil é sempre preferível a mais crua, contanto, que não nos esqueçamos de que ainda é uma violência, pois do contrário, esquecendo-se disso, a violência sutil pode ser mais perniciosa, por ser mais atenuante e mais entorpecente. Portanto, há uma ambiguidade na democracia, ela é mais preferível para opressores e oprimidos.
Portanto, a política é violência explícita ou violência e persuasão, quando a violência é ocultada ou está latente. Assim, quando a política tenta ser só persuasão não deixa de ser também violência, mesmo que sutilmente. Em última instância, política é, sobretudo, violência.

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