segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Amor como estratégia de sujeição




Já se disse coisas muito belas sobre o amor. Desde o apóstolo Paulo, passando por Camões até culminar, pasmem, nos lacrimosos românticos repletos de imagens bucólicas, de nações imemoriais até as noções ingênuas de bons selvagens e paraísos terrestres fundados no amor natural (a ingenuidade foi também uma grande tática política).

Mas, pouco se disse, ou pelo menos, não o suficiente sobre o aspecto estratégico do amor como sujeição do ser em si em função do outro. Do amor como circuito controlado da liberdade, esta vertente do amor, está cada vez mais olvidada na história.

O amor por esta outra perspectiva é um regime que amortece e canaliza os desejos. O amor pode ser assim, um mecanismo hábil de dominação e sujeição dos potenciais do indivíduo enquanto ser livre e autodeterminante.

O reino do amor é um governo despótico que controla o indivíduo em função do outro, a soberania invisível que impõe uma vontade externa impedindo o indivíduo de ser autônomo, de pensar e agir por si mesmo. Pois que outra coisa é o amor que não a escravidão voluntária, de se sujeitar a outrem por querer próprio? 

Até Camões, embora numa perspectiva positiva, sabia disso ao cantar o amor como uma prisão pela própria vontade. O amor é a prisão invisível que criamos para prender nossos sentimentos mais verdadeiros, porém, incômodos à sociedade. O amor é o constrangimento repressor de nossos desejos mais íntimos, mais naturais e mais autônomos. 

Já dizia Freud que para haver sociedade, pelo menos como a conhecemos, é preciso erigir uma barreira, uma represa que bloqueei nossos desejos. Os traumas daí oriundos deveriam ser tratados com encanamentos que dessem aos desejos uma vazão suave impedindo que se rompesse a barragem, mas esta jamais deveria ser destruída ou teríamos o comprometimento da própria instituição social.

A Igreja católica foi talvez a grande educadora moral do ocidente, porque soube usar, como nenhuma outra instituição, a empatia estrategicamente criada pelo amor para impor sua dominação à sociedade. Foi a Igreja que soube como ninguém confundir o amor a Deus e ao próximo com o amor ao governante, quem mais encarnava o outro indeterminado, responsável por canalizar as espontaneidades humanas nos leitos calmos da moralidade.

Contra isso, Max Stirner enunciava o seu ideal de homem egoísta como autônomo e autodeterminante que recusava quaisquer modos de sujeição externa. Amar para Stirner, era aceitar os mandamentos do outro, era, em último caso, se sujeitar a vontade do outro, nada mais longe da liberdade, segundo este que foi um dos maiores filósofos, marginal é verdade, da tradição filosófica alemã. Marginal porque marca uma ruptura com esta mesma tradição.

Maquiavel sabia que o amor também era um mecanismo de consolidação e manutenção da soberania do príncipe, embora, se fosse para escolher, ele teria preferido o temor ao amor. Isso não porque o amor não era uma estratégia eficaz de obtenção e manutenção do poder, e sim devido às circunstâncias particulares em que o amor não seria sustentável.

O amor é em suma um verdadeiro ódio à liberdade. Ser livre, portanto, é recusar o amor ao outro. Numa situação limite o amor é uma auto-prisão que os indivíduos se impõem a si mesmo. Em suma, não é um bem, é um mal para a humanidade, para os homens e mulheres, para a sociedade enfim, pois aprisionam os eus nas vontades dos outros.

Que melhor maneira de impor sua vontade ao outro do que fazê-lo o amar?

Muitos dirão que eu não sei o que é o amor, mas contra estes antecipadamente digo: o que a maioria define como amor nunca existiu de verdade. O conceito de amor que cito este sim tem proximidade com o real, está presente em nosso cotidiano e é o contrário do sonho de amor que todos almejam ter, mas que, sinceramente?, ninguém tem.

(Então se você quer bem ao outro, à sociedade, à sua família à sua companheira ou companheiro, não o ame, queira o bem, faça-lhe o bem e, portanto, não o ame e nem deixe que o ame).

Um comentário:

Anônimo disse...

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