terça-feira, 17 de março de 2009

A Vida é uma Cilada II


O Caso Típico


Quando chegou ao lugar marcado, já fazia algum tempo que Camargo tomara um banho em água fria e a sua aparência quase conseguia disfarçar suas rotineiras investidas noturnas aos piores puteiros da cidade. É incrível o crédito policial que ainda detinha nessas espeluncas, justamente por fingir, quando ainda era delegado, que nada demais rolava nesses locais de prazeres baratos.Nesse momento, ao seu lado sentava-se um homem de terno preto alto e forte que disse:


- Eu vim em nome de Dona Juliana, a mulher que me pediu para contratar seus serviços ontem por telefone, ela está ali naquela mesa em frente, com o celular na mão, está vendo? Seja discreto, por favor.


- Sim, estou.


À mesa indicada estava uma suntuosa loira que, mesmo para o ambiente que não era nem um pouco modesto, se destacava entre os que ali estavam, principalmente, em comparação ao desleixo clássico de Camargo. Ela tentava ser discreta, embora, com um rosto harmonioso, preenchidos por delicados lábios carnudos e com um corpo escultural, isso fosse quase impossível.


- Por que tanta precaução, eu sou um profissional.


- Por favor, não se ofenda, a Dona Juliana é uma pessoa conhecida, freqüentemente está nas colunas sociais.


Camargo, como é de praxe, demonstrou que o caso era delicado e que devido a discrição máxima exigida pela cliente, seus serviços custariam um pouco mais.


- Tudo bem, dinheiro não é problema.


E quando Camargo falou o preço e ele aceitou de primeira, causou um terrível arrependimento no detetive que, pensara, devia ter cobrado mais.


- Você tem celular, detetive?


- Sim, por quê?


- Vou passar o número para a Sra. Juliana, assim, ela negociará pessoalmente contigo.


- Mas, ela está logo ali...


- Lembre-se, você vai ganhar pela discrição.


O homem alto de terno escuro deixa o balcão, passa por Juliana e discretamente deixa o guardanapo com número do celular de Camargo sobre a mesa. Quem não tivesse vendo, como Camargo via, não perceberia nada.


Logo depois o celular de Camargo toca o sinal de mensagem de texto que dizia:


- “Quero que investigue Paulo m u irm e sócio na empresa acho que ele está me traindo”. A mensagem, apesar de alguns erros de português, era inteligível, pensava ao ler, Camargo.


Na mensagem seguinte: “Deixarei o dinheiro e tudo que precisa na caixa postal indicada no seu anúncio de jornal”. “Tome cuidado, tudo deve ser tratado com a mais alta discrição, ok?”


“Ok!”, tecla Camargo respondendo às mensagens que recebera.


Logo depois, Juliana levanta-se e sai com a máxima sutileza que sua beleza estonteante poderia permitir. O cara alto, possivelmente, o chofer, já não se encontrava no requintado bar da Consolação.


O caso era aparentemente simples, meditava Camargo, sorvendo um caríssimo pingado, ele preferiria uma dose de qualquer coisa, mas seu dinheiro só lhe deixava a opção do café com leite. Tudo indicava que o marido de sua cliente, Juliana, que fora, por certo, obrigada pela família do noivo a retirar seu sobrenome de solteira, casara com um playboy que fizera dela apenas mais uma de suas “máquinas” que compunham sua coleção, como uma Ferrari, uma Masserati e assim, por diante. Iludira a moça na flor da idade, como um sedutor fingindo ser o “príncipe encantado” de seus sonhos juvenis. Agora, deixava aquela beldade empoeirar, enquanto ficava mais tarde no “escritório” e em “reuniões” até madrugadas a fora, sem dar a menor satisfação a sua mulher. Era o típico caso da mulher apaixonada traída pelo marido rico.

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