domingo, 2 de janeiro de 2011

Histórias reais de fatos improváveis II


Como se faz um homem
Ou O porquê que toda casa deveria ter dois ferros de passar


Conheci Lucimara aos 13 anos. Como é próprio da natureza humana, as meninas se desenvolve mais depressa que os meninos, era por isso que mesmo tendo a mesma idade que ela, eu era um meninão e ela uma moça com corpo já bastante desenvolvido.

Ela, que eu me lembre, já havia namorado muitos outros meninos mais velhos, eu, nem sequer havia beijado, e meu desejo por ela era indescritível. Tanto que um dia pensando nela, mais especificamente, em suas nádegas fabulosas, me descobri como homem, numa mistura feliz de excitação, ternura e espanto.

Foi a partir daí que comecei a dar “em cima dela” de um jeito bastante particular, isto é, de um jeito completamente sem jeito. Conseguia faze-la rir no início, isso para mim já era a glória, quando então, com mais intimidade eu já a cumprimentava dando lhe beijinhos em seu rosto, era quase um orgasmo.

Acho que numa de suas decepções e num desses acasos da juventude, um dia a levei em casa, para minha sorte seus pais não estavam e ela me convidou para entrar. Ela então me ensinou a ser homem. Beijávamos, apertávamos... Até que começou a tirar minha roupa, desse momento em diante era como se dirigisse no escuro, não sabia para onde ir, o que falar, o que fazer, mas ela me guiou muito bem, e o certo é que eu devo ter correspondido às suas expectativas.

Na escola quando nos encontramos depois, ela meio sem jeito ficava no meio do caminho, entre demonstrar seu apreço por mim e a vergonha em beijar um menino que tinha quase a metade de sua altura. Para mim, era tudo festa, não me importava, nem quando outros meninos maiores me ignorando completamente a “cantava” em minha frente. Sentia alguma raiva, mas algo bem longe do ciúme.

O tempo passava e era como se as horas, dias e meses se misturassem, andassem para frente, ora para o lado e vez ou outra para trás; o tempo estava relacionado a nós inteiramente, tanto que, nas férias quando chovia aquela garoa fria de julho, tipicamente paulistana, o que obrigava um garoto de 14 anos a permanecer dias e dias em casa; para mim, era como se o tempo paralisasse, pois nada ocorria, nada mudava, meu desejo não se satisfazia.

Nesses dias elásticos, como no quadro de salvador Dali, combinamos de compensar nossa abstinência. Era um plano maluco: eu diria aos meus pais que dormiria na casa de um amigo, mas na verdade dormiria na cada dela, ela tinha um quarto só para ela, coisa que eu não tinha. Assim quando por volta das 10 ou 11 da noite, seus pais dormissem, eu ficaria à espera em seu portão e entraria com sua ajuda sorrateiramente para seu quarto, dormiríamos juntos até mais ou menos 8 horas, pois seus pais sairiam para trabalhar por volta das 7 horas do dia seguinte e então a casa ficaria vazia. Era muito arriscado, mas o desejo nos encorajava e fazia de uma simples combinação feita às pressas, um plano perfeito.

Como o planejado, entrei para seu quarto com uma facilidade incrível e diante daquela situação, brincamos de marido e mulher com uma liberdade fantástica. Com tanta empolgação chegamos ao ponto de acordarmos os pais de Lucimara, o que fez seu pai vir à porta do quarto perguntar o que estava acontecendo, ela, então, prontamente respondeu que era a televisão e pedindo desculpas disse que já iria desligar. Assentindo com silêncio, seu pai voltou para cama e nós abafamos os risos sob os cobertores e voltamos para nossa festa particular.

O dia clareou e eu nos seus braços acordei com ela me chamando ou com alguém a chamando no portão, era sua amiga inconveniente. Logo a seguir sua mãe bate à porta lhe pedindo para atender a Fernanda. O terror se abateu sobre mim, meu pesadelo estava começando. Não havia saída, ela tinha que deixar o quarto, e o pior a porta tinha que ficar destrancada, pois senão como entraria depois, ficaria assim, vulnerável, sem ter para onde fugir, pois a janela de seu quarto tinha grades. Não tendo o que fazer pedi encarecidamente que fosse breve, e antes que saísse desci da cama nu, dei-lhe um beijo e fui para trás da porta, foi quando percebi que estava tremendo descontroladamente.

Todos os meus sentidos estavam ligados aos movimentos que os pais de Lucimara faziam dentro da casa, meus ouvidos perseguiam seus passos que freneticamente, às vezes, cruzavam em frente ao quarto de sua filha. Entre falas e passos, ouvi seu pai perguntando se tal camisa estava passada, para meu desespero sua mãe respondeu que havia se esquecido de passar, mas que iria fazer agora. Rezei e pedi para todos os deuses fazer com que a família de Lucimara tivesse mais que um ferro de passar em casa, isso porque havia um ferro atrás de mim no quarto de Lucimara. Não adiantou não havia outro ferro naquela casa, assim quando a mesa de passar foi aberta e sua mãe disse de si para si que detestava quando as coisas estavam fora de lugar se referindo ao ferro de passar, o que eu concordei prontamente, percebi que tinha apenas alguns segundos para recolher minhas roupas, cueca, calça e camiseta e me esconder de baixo da cama, o que era definitivamente impossível sem fazer barulho e revelar que havia alguém no quarto de sua filha, quando esta ainda estava no portão. Não tive outra escolha, a não ser, colocar toda minha força sobre a porta do quarto de Lucimara impedindo que sua mãe a abrisse, para que pensasse assim que a porta estava trancada.

Um breve alívio escorreu por meu corpo misturando ao suor frio, quando sua mãe gritou a Lucimara para que viesse logo abrir seu quarto, pois precisava do ferro, “onde já se viu trancar a porta do quarto”. Sem perder tempo juntei minhas roupas e mergulhei debaixo da cama, tentando controlar minha tremedeira para não revelar minha presença. E qual não foi o estranhamento, quando Lucimara abriu a porta de seu quarto sem usar as chaves, acho que a perplexidade de sua mãe só não foi maior e suficiente para uma breve investigação do que se passava, porque a mesma estava atrasada e ainda tinha que passar a camisa do marido. Os próximos 15 minutos foram os mais longos que passei, principalmente, depois que vi a mãe de Lucimara pisar sobre uma de minhas meias que esqueci, na pressa de me esconder, no chão do quarto, quando sua mãe entrou para pegar o “bendito” ferro.

Meu pânico foi tão grande, que mesmo depois que seus pais saíram para trabalhar e que Lucimara veio a me chamar debaixo da cama, eu não queria sair dali, chorava e tremia como uma criança, ela mesma muito assustada, pois me disse depois que quando abriu o quarto com sua mãe atrás de si até fechou os olhos, pois pensava que ia se deparar comigo pelado, e já se preparava para o pior, depois disso, me disse também que começou a se acalmar e, portanto, quando de joelhos me chamava para sair debaixo da cama, parecia para mim incrivelmente calma e mesmo insensível.

Vesti depressa minha roupa e fugi de sua casa com toda a energia que ainda me restava, quando cansei, parei, sentei em qualquer meio fio, sem nem me preocupar com o lugar onde estava. Nesse instante, percebi que estávamos perto do fim. Depois disso, alguns beijos e estocadas em pé sob as sombras das árvores e encostados nos muros e padrões de energia longe do conforto perigoso de seu quarto, nosso final previsível foi consumado inexoravelmente.

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