sábado, 1 de janeiro de 2011

Histórias reais de fatos improváveis I


23, 17, 18, 19, 20, 21 e 22 –
Da importância dos números ou como os números mudam a nossa vida?


Era o ano do meu 23º aniversário, há pouco efetivei numa repartição pública, uma autarquia da Prefeitura que aprovava projetos de casas populares, nada muito sério.

Estava feliz, o emprego público e sua estabilidade ainda não me indicava monotonia.

Foi quando então começou a trabalhar uma estagiária na repartição que era a coisa mais linda que eu havia visto, e para minha sorte ela sempre vinha na minha seção, a de protocolos.

Um dia saindo um pouco mais tarde nos encontramos na fila do caixa eletrônico, ela puxou assunto e eu que não sou muito bom de conversa consegui dar alguma corda para que nosso papo se prolongasse até o beijo de a gente se vê.

Meses se passaram até o nosso primeiro encontro, no segundo dei nela o primeiro beijo, desde então, para mim, pelo menos, era como se fosse um namoro.

Duas semanas depois, no dia do seu aniversário, como não sou muito criativo lhe dei um CD do Chico Buarque, que ela ainda não conhecia muito, mas graças a mim, já cantarolava algumas músicas, depois fomos para uma churrascaria e dali, era pelo menos a minha intenção, pernoitaríamos em um motel, tudo dentro de um orçamento modesto de um funcionário público efetivo, mas ainda no probatório.

Tudo corria bem, entráramos no motel, suíte luxo, sem banheira de hidromassagem, quando ela disse-me que precisava ligar para mãe avisando-a de que dormiria fora aquela noite. Sem querer, mas curioso, sentado na cama eu ouvia sua voz e tentava adivinhar a fala de sua mãe.

Logo que desligou, inconscientemente talvez, depois de ter ouvido a conversa, as várias justificativas, desculpas, e algumas mentiras, perguntei-lhe que embora fosse seu aniversário, eu ainda não sabia sua idade.

Em meio a beijos e abraços, veio por um sussurro a resposta: 17 anos!

Foi quando em meu corpo quente de desejo começou a brotar um suor gelado de apreensão.

Como não percebi que estava com uma menor de idade?

Como não dei por mim? Ou será que eu percebi e fingi não perceber?

Nós já estávamos completamente nus, meu desejo já lhe era visível, mas os 17 anos ecoavam em minha cabeça, um misto de instinto sexual e medo moral conflitavam dentro de mim, sem que nenhum deles quisesse ceder.

Mas de repente num átimo pulei da cama e lhe disse para vestir a roupa, ela sem acreditar, num misto de espanto e revolta começou a se vestir, mudamente.

Sem mais nenhuma palavra pedi a conta, mesmo sendo avisado que pagaria pelas duas horas sem usar.

Deixei-a num ponto de ônibus, como me pedira, seu pedido fora a única frase que proferiu naquele que foi nosso último encontro.

Faz um ano hoje do ocorrido, ela então completou 18 anos, exatamente um ano que não a vejo, nunca mais voltou à repartição, seu cadastro foi fechado como abandono de emprego, segundo algumas pessoas, ela trancou a faculdade e mudou de cidade, foi morar com o pai em outro Estado.

Para comemorar o seu dia me dei outro disco do Chico Buarque, fui à churrascaria e acabo de entrar no motel, fiz questão de exigir o mesmo quarto 19, esperei para isso, 20 minutos, e aqui mesmo sobre meu lap top acabo de escrever esta linha deste texto que demorei exatos 21 minutos, caminho então para o telefone onde peço a conta, o mesmo tempo em que ficamos aqui um ano atrás, exatos: 22 minutos.




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