domingo, 9 de janeiro de 2011

Estórias de Boteco I

 


Nunca sabemos se é a última ou as últimas?


Numa mesa de bar de uma tarde morna e sem graça tomavam chope dois velhos amigos. Estavam em um silêncio quase constrangedor até que Zé o irrompe sem saber muito que dizer:

Cara, nem te conto... Esses dias passei maior apuro.

É? Responde João com certo desinteresse que beira a melancolia.

Cê sabe minha namorada que mudou daqui, né?

Sim, sei. E...

Bom e daí que a mina ia cair fora, e nós estávamos na maior seca, e o pior? sem ter lugar para aliviar a tensão.

Mesmo? Sorvendo o chope lentamente.

Então no último dia dela aqui, quer dizer, nas últimas horas, estávamos nós esperando meus pais no estacionamento do banco, pois a única chance que tínhamos de ficar sozinhos era permanecermos no carro debaixo daquele calor infernal, mas nós ficamos.

E em meio a abraços e beijos, e a coisa esquentando, resolvemos descer do carro e ir para árvore imensa logo atrás da vaga onde estávamos.

Ela com uma bermuda curta e uma mini-blusa como empecilhos inexoráveis...

Empecilhos inexoráveis?

É, estava atrapalhando muito e...

Eu sei o que significa, mas essas palavras não combinam com a história, diga-se de passagem, uma estorinha chata para caramba.

Aé? Então escuta só, eu não te contei o que ocorreu antes disso. Queria fazer um flash-back, a la Eisenstein, mas já vi que você prefere o tradicional a la Griffith...

Ao o quê?

Ao o quê o caralho, a quem?

A deixa para lá...

É bom mesmo...

Vai... Adiante... O chefia desce outra rodada, beleza?

Então, na noite anterior ao lance do estacionamento, ela dormiu em casa, naquele que seria a nossa despedida, mas acontece que na noite anterior a esta, era meu aniversário, e eu e meu primo...

Que bosta, heim?, quantas noites e dias têm esta história, acho que não vai ter chope o suficiente para nos abastecer enquanto você a conta, não.

Caralho, cê qué ouvi a história ou não?

Sim, sim, prossiga.

O lance do primo é o seguinte, eu tinha ido a uma boate com ele, cheguei de madrugada e isso explica, ou pelo menos foi minha desculpa, para ter dormindo e não ter ido ao quarto de minha irmã, onde minha namorada dormia, para que depois que a minha irmã começasse a roncar, pois era o sinal de que já estava dormindo, tivéssemos, enfim, nossa despedida.

Pois bem, como disse, eu dormi. Quando acordei, o dia já estava clareando e mesmo assim eu arrisquei, e nas pontas dos pés fui até o quarto, subi na cama, e logo minha namorada acordou e sem perder tempo começamos, pois nisso, não é que a minha irmã desperta, levanta e sai do quarto? Aí eu pensei, fudeu, vai direto ao meu pai contar tudo. Nesse instante corri pelado juntando uma roupa aqui outra ali e fui direto para o meu quarto esperar o pior...

E quem diria, minha irmã levantou da cama sem ver que eu estava na cama ao lado com a minha namorada debaixo de mim. Ela tinha ido apenas ao banheiro e retornou ao quarto como se nada tivesse ocorrido e voltou a dormir.

Hum, sei...

O problema é que não dava mais tempo para tentar nada, meu pai logo acordou e a nossa despedida furou, por culpa minha, por ter dormido demais.

Ta legal sua estorinha, mas o quê que o acontecimento do estacionamento tem a ver com isso?

Muito, oras, foi no mesmo dia, estava com peso na consciência de não ter acordado, o desejo tinha aumentado, e aparentemente o estacionamento estava sem nenhuma alma viva.

Foi quando que, entre amassos e beijos debaixo da sombra da grande árvore, inspirado resolvi tentar a sorte, ela resistiu, mas consentiu, e começamos ali mesmo, perto do meio dia, a termos umas das sensações mais fascinantes até então, uma mistura de medo, desejo, atenção, tensão e prazer durante breves minutos que terminaram abruptamente, pois sem perceber um motoqueiro na sombra da árvore ao lado, dava um sorriso largo para gente, pois, ao que parece o mesmo estava ali, já fazia algum tempo, e assim ficou admirando a cena sem que, em nossa loucura íntima, tivéssemos percebido.

Quando nós o descobrimos, então nos entreolhamos, eu, ela e o motoqueiro, foi o mesmo que entrar no pólo norte, e se pudéssemos, teríamos escondidos nossas cabeças lá de vergonha, pois o mais tragicômico não foi não ter chegado ao êxtase, mas sim ter visto o vilão sair rindo safadamente para nós.

Depois tive que enfrentar a ira da minha namorada nas últimas horas antes dela viajar, pior não podia acontecer, depois disso, você já sabe...

Sei o quê?

Essa história dela lá e eu aqui...

Ahh sim, sei, como sei...

Ê, quê que foi? Qual é? Eu sou inseguro, mas tenho sentimentos, saio com outras, mas é por insegurança, falou?

Sei, claro, como não, ô garçom traz um escuro pra mim, continua no claro?

Claro.

E um claro para ele, firmeza?

Vamos fechar?

Sim pod...

Beleza, ô garçom! Aproveita e traz a conta, falou?

Linnus Schroeder

Nenhum comentário: