quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Histórias reais de fatos improváveis III


O Ponto de Ônibus


Em um dia chuvoso depois da aula, estava eu esperando o ônibus para ir à outra escola terminar minha extensa jornada de trabalho como professor, quando de repente, uma aluna, que não me lembrava até então seu nome (nunca fui bom para nomes) me interpelou.

Oiiii professor, tuuudo bem?

Olá,bem, só um pouco cansado.

O senhor está indo para casa?

Não, infelizmente não, estou indo para outra escola, ainda tenho mais 5 aulas...

Humm, infelizmente porque já está com saudade de sua esposa?

Ah, não, eu não sou casado (nesse instante comecei a perceber suas verdadeiras intenções, mas me mantive impassível).

Sério? Como é possível, nenhuma mulher ainda ter te achado?

Rubramente respondi tentando ser irônico:

É, não sei, parece incrível para mim também.

Já eu estou inda para casa, e não tenho ninguém para cuidar de mim nesse tempo frio, fico tão solitária em casa quando chove.

E seus pais onde estão?

Estão trabalhando, só voltam a noite, eu que cuido da casa.

Que responsabilidade para um menina de ...?

14 anos, quase 15.

Mesmo?

Por quê? Pareço ser mais experiente, mais madura?

É... é, sim parece... (que absurdo: ficar nervoso diante de uma menina de 14 anos).

O senhor já faltou de aula, quer dizer, deixou de ir trabalhar?

Sim, algumas vezes, mas sempre com boas justificativas (que bobo que eu fui, acabo de cair direitinho na sua armadilha).

Nesse momento, ela, a aluna, dá uma voltinha, e com um olhar sensual e voz gutural, me pergunta?

E eu?

Como assim? (fingindo desentendido).

Sou uma boa justificativa?

Ah, hum, sim, claro, mas,...

Meu ônibus, ah... acabei de perder meu ônibus.

Ta vendo? O destino está conspirando a meu favor.

Nesse instante confesso que estava propenso a faltar de serviço, mas meu profissionalismo, ou seja lá o que for, falou mais alto e comecei a tomar às rédeas da situação:

Olha, é o seguinte, você é muito nova, mesmo que tenha saído com outras pessoas e até mesmo outros professores, eu não posso fazer isso.

Não pode por quê?

Por que eu vou te contar três versões do que poderá acontecer se eu aceitar ir para a sua casa hoje:

A primeira é a melhor para mim, eu falto, vou para sua casa, lá farei tudo que você quer, imaginou e até o que você nunca imaginou, você se apaixona por mim, quer a todo custo morar comigo e vai começar a usar todos seus recursos sedutores para que eu faça isso, até que finalmente eu vá falar com seus pais, conseguindo assim o que você quer. Depois de um ano, estaremos morando juntos, você deixa de ser a dona de casa de seus pais para viver o conto de fadas com o seu professor, mas no primeiro mês você percebe que virou foi a minha dona de casa, vai percebe que eu chego em casa cada vez mais cansado, menos inspirado, que a nossa relação caiu na rotina; a seguir, vem as brigas, se dermos sorte você não engravida e, embora, ficaremos magoados e brigados um com outro, teremos, enfim, certeza que nós dois não demos certos devido as disparidades entre os anseios e necessidades de uma menina de 15 anos e de um professor de 25; mas menos mal que você poderá voltar para casa de seus pais e retomar sua vida, quase como era antes.

A segunda opção é mais trágica, supondo que eu esteja mentido e seja casado, e fale sim e vá para sua casa, a primeira parte da história é a mesma da anterior, só que com uma diferença, como eu só quero me divertir, você se apaixona e eu te enrolo até o ano seguinte, então eu mudo de escola e você nunca mais vai me ver, você se decepciona inicialmente, depois fica em estado de tristeza, perde a vaidade, pois já havia contado para suas colegas que estava saindo comigo, então, elas vão te olhar como quem diz: “olha lá a rejeitada, se entregou e depois tomou um chute na bunda”, por fim, entra em depressão, então você vai a um psicólogo, e se tiver sorte, ele vai te indicar um psicanalista que vai te fazer chegar a conclusão que se entregou a um cara mais velho, porque se sentia ignorada pelo pai e, assim, com intenção de suprimir esta carência, esta falta, substitui seu pai pelo professor, que com a rejeição deste, passa a se sentir duplamente abandonada, o que a leva a depressão, depois de se autoconhecer, se recupera e volta a sua vida normal; porém se tiver azar, o psicólogo tentará um tratamento a base de medicamentos, você terá uma melhora rápida, mas ficará dependente dos tais remédios....

A terceira opção só é trágica para mim, pois eu me apaixono por você,  separo da minha esposa, começo a pagar pensão, o que diminui sensivelmente o meu orçamento, consequentemente isso afetará o nível de vida que conseguirei te proporcionar, quando a sensação do novo passar e nosso relacionamento entrar em rotina, você perceberá que foi um erro, que seu nível de vida piorou e vai voltar para a casa de seus pais; aí será eu que entrarei em depressão e terei o seu mesmo destino que teve na história anterior.

Mal eu terminei a terceira versão, ela disse, num tom incrivelmente jocoso e decepcionado, que se revelou na mais pura imagem poética que ainda guardo em minha memória:

É, acho que esse foi o maior nããão que eu recebi!

O segundo ônibus, o último que ainda não me faria chegar atrasado, acabara de parar. Isso me fazia ter apenas 3 segundos para decidir algo que mudaria a minha vida para sempre...

Imagine só o que aconteceu...

2 comentários:

Anônimo disse...

rsrsrsr.
Muito Bom!!! Como é que ninguém nunca comentou isso.
É brilhante!!!Maravilhosa história...alias é baseada em fatos reais...kkkk. Me comoveu.
Sério, parabéns.

Rosana disse...

Nossa interessante ler isso através da narração de um professor,porque é bem isso mesmo que acontece nos corredores escolares ou no seu caso nos pontos de ônibus,só que até agora só tinha ouvido estas histórias contadas por alunas,nunca por um professor.