sábado, 16 de fevereiro de 2008

Guerra ou Fuga - A Modernidade Reinventada


A “máquina de guerra nômade” conquista sem ser notada e se move antes do mapa ser retificado. Quanto ao futuro, apenas o autônomo pode planejar a autonomia, organizar-se para ela, criá-la. É uma ação conduzida por esforço próprio. O primeiro passo se assemelha um satori – a constatação de que a TAZ começa com um simples ato de percepção.
Hakim Bey[1]


1. O Pós da Modernidade
Em que se diferenciam as críticas modernas e pós-modernas? Qual a justificação do pós na modernidade. Há ainda espaço na ciência social para a crítica. Muito do que foi escrito até aqui principalmente oriunda de uma reação marxista às antiteorias pós-modernas era carregado de um espírito pouco benevolente.
Tais críticas, por princípio, se baseavam no fato simples e claro, pelo menos para eles, de que a modernidade teria sido inaugurada, dentre outros fatores, pelo advento do capitalismo, como o modo de produção continuava o mesmo, segundo eles, ainda estaríamos em plena modernidade e, portanto, a maioria das definições pós-modernas era simples constatação de mudanças dentro do capitalismo na modernidade. Assim, alguns se centravam na crítica do sistema de trabalho, não sem razão, pois alguns críticos ditos pós-modernos previam, brevemente, um mundo sem trabalho. Evidentemente, havia exageros nestas constatações, já que tendiam a ver uma mudança de conjuntura como sendo estrutural. Nesse caso, o esvaziamento das indústrias e o crescimento do terceiro setor, mais as novas técnicas de produção e regime de trabalho, que foram responsáveis pela falência dos sindicatos e de núcleos de resistência antes tradicionais dos trabalhadores, já não eram mais eficazes na era da acumulação flexível. Mas isso não significava um provável fim do trabalho e sim o fim de um tipo acumulação baseada diretamente na exploração da força de trabalho. Sendo assim, não era o fim do capitalismo, mas, uma outra maneira de acumulação capitalista.
No entanto, o ponto forte dessa reação marxista era justamente a fraqueza de seus adversários. Os alvos de suas críticas eram apenas as partes visíveis do iceberg. A crítica pós-moderna, a que realmente justificava seu prefixo, soube capturar muito bem sua época, conseguiu ser realmente contemporânea de si mesma.
E por essa perspectiva, podemos ver que uma das grandes contribuições dos pós-modernos foi a crítica à noção de identidade aos a priori(s) e as unidades pré-concebidas, pré-estabelecidas. Estas se constituíram em verdadeiras demolições que deixaram em ruínas as ditas metas-teorias que buscavam apreender o real em seu todo, homogeneizando as realidades múltiplas das “diferentes diversidades” que almejavam abarcar como totalidade.
Quase sempre, para isso, o método e abordagem eram identificáveis com o objeto, o mais assustador disso é que não se tratava de uma relação de troca entre teoria e prática, mas uma adaptação, uma identificação forçada entre uma e outra que, em casos menos graves, buscavam uma apreensão progressiva da realidade que por acumulação de conhecimento seria responsável pela síntese cada vez mais próxima da realidade ou a própria realidade cada vez mais exata, e por isso, com mais possibilidade de intervenção no destino da humanidade.
Tanto iluministas quanto marxistas eram coniventes a esse arcabouço interpretativo e compartilhavam do mito do conhecimento acumulativo. À parte, todo o niilismo que germinou em meio à demolição desconstrucionista do pós-modernismo, tais críticas foram bastante eficazes para nos provocar questões que nem ao menos pensávamos em formular.

[1] BEY, Hakim. TAZ: Zona Autônoma Temporária, p. 19. Para se verificar o contágio da filosofia deleuzeana, mesmo que involuntário ou inconscientemente, para além das táticas de desaparecimento da TAZ, restrito aos limites dos ataques lingüísticos e de sabotagem das informações, cf. Revista Fórum, 58, janeiro, ano 7, 2008: “A tática de guerrilha permite às Farc controlar um território imenso da selva colombiana. Os acampamentos, por exemplo, são sempre transitórios. Raramente ficam armados num mesmo local por mais de quatro meses”.

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