domingo, 17 de fevereiro de 2008

Guerra ou Fuga – A Modernidade Reinventada II

2. Identidades móveis, fluídas... Posicionamentos do sujeito

Uma das marcas da crítica pós-moderna é o ataque à eficácia do conceito de identidade no mundo globalizado de hoje. Alguns autores como Hardt e Negri, tentaram apreender nossa realidade diferenciando o período imperialista dessa nova conjuntura por eles determinada: Império. Eles procuraram androgeniamente articular metas-teorias, principalmente, um marxismo revisado com antiteorias pós-modernas. O resultado foi uma obra híbrida e única que misturou Foucault, Deleuze e Marx sem anulá-los mutuamente. [1]
Uma das perspectivas abordadas pelos autores é a constante desterritorialização. Assim, cada pessoa em sua especificidade diferenciada torna-se incessantemente descaracterizadas, desterritorializadas e, com isso, estaria constantemente buscando novas identificações, máscaras de sociabilidade em sociedades cada vez mais indiferenciadas pelo consumo de massa e (des)raizadas por ocasião de rupturas incessantes nos hábitos e costumes, que nem chegam a se caracterizarem com tais e já acabam como modas da estação que duram cada vez menos devido ao ritmo veloz e esquizofrênico do sempre “novo” cada vez mais supérfluo e descartável.
Neste contexto, o conceito de identidade perde sua função, pois a condição de possibilidade para sua existência é suprimida e subjugada pelo processo de desterritorialização que predomina na sociedade regida pelo império.
A sociedade disciplinar típica das negociações bélicas imperialistas que marcavam e demarcavam territórios numa incessante busca por novos mercados, irradiando o poder do centro para as periferias subjugadas, impondo a culturas às técnicas disciplinares adequadas ao desenvolvimento do Estado liberal que se resguardava enquanto tal, paradoxalmente, por meio da monopolização das riquezas alheias sob o disfarce do livre câmbio entre as potências.
No pós-guerra, com a emergência de dois pólos de poderes, a conjuntura internacional propiciou novas possibilidades com o desgaste mútuo das hegemonias agravada pela crise econômica de 1973, que decretou o fim do Welfare State que tinha como condição de possibilidade a exploração imperialista que vinha degringolando desde o fim da Segunda Guerra Mundial e teve com a Guerra do Vietnã e derrota principalmente moral dos Estados Unidos, o último alento para o capital centralizador que até então predominava.
Com a crise e com o fim das condições de continuidade hegemônicas enquanto Estados nacionais clássicos, o capital e seus agentes foram se adequando e criando novas condições de hegemonia desterritorializando as economias nacionais, com a base na revolução das tecnologias de informação, nas técnicas flexíveis de produção atrelada online ao consumo, juntamente como desemprego em massa que se tornando estrutural e somado a terceirização e as técnicas toyotistas, fizeram das antigas periferias desterritorializadas, os novíssimos mercados do capital volátil e global.
Nesse processo de desnacionalização do capital que buscou os menores custos de produção redirecionando seus territórios produtores, trazendo desemprego e crise para os antigos pólos industriais, as hierarquias tornaram-se instáveis, grandes multinacionais como a GM líder do mercado automobilístico durante décadas foi recentemente superada por empresas asiáticas que se configuraram melhor as táticas novas de mercado e as impuseram, se aproveitando das altas taxas de desemprego provocadas, em parte, pela substituição tecnológica da força de trabalho, do sucateamento da seguridade e previdência social, antigos baluartes do Estado de Bem Estar Social.
Em suma, esse novo panorama seguiu regras para conter o déficit do Estado e aumentar o acúmulo de capital que favorecia a criação de oligopólios, trustes e cartéis conectando os tentáculos da lucratividade no domínio de fatias de mercado e não mais apenas na produção, isto é, exclusivamente na exploração da força de trabalho, relativamente, cada vez mais reduzida no ramo industrial.
No plano individual a insegurança torna-se uma constante “tudo que é sólido se desmancha no ar”, a velha máxima de Marx, dotada de inspiração renovada, aguça a visão da modernidade que na interpretação de Bauman é formada de uma “textura” líquida. As coisas nos escapam à mão, tudo se (des)faz instantaneamente inclusive nossas convicções mais profundas, a tensão cotidiana é a regra enquanto “máquinas desejantes” buscamos sempre algo que não sabemos, queremos e não sabemos o que queremos, desejamos, desejamos realizações nunca realizáveis, pois na medida das contingentes realizações, elas desaparecem por serem descartáveis. [2]

[1] Cf. HARDT, M. & NEGRI, A. Império.
[2] Cf. BAUMAN, Z. Modernidade Líquida.

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